A igreja foi arrebatada.

O meu grande temor, talvez não o maior; mas um dos maiores, quando criança, era de um dia acordar e perceber que a "Igreja" tinha sido arrebatada com Cristo aos céus e eu havia ficado. Ficar, significava passar por todos aqueles tormentos descritos no Apocalipse Joanino e em outros apocalipses da Escatologia Teológica. O meu temor era aquilo que chamamos de a Segunda vinda de Cristo, Segundo Advento ou Parúsia é um termo usualmente empregado com a significação religiosa de volta gloriosa de Jesus Cristo, no fim dos tempos, para presidir o Juízo Final, conforme creem as várias religiões cristãs e muçulmanas, inclusive sincréticas e esotéricas. Bem. Passados alguns anos-décadas A Igreja não foi arrebatada, Jesus não voltou, o mundo não acabou, o juízo final, havendo, foi adiado. Mas o meu temor se concretizou de outra maneira. O meu medo, aquilo que, talvez eu, mais temia; aconteceu. A "igreja" desapareceu! E com isto, foram arrebatadas quase todas as características que marcaram a sua trajetória daquele "povinho". Características de uma moralidade e ética que se mostrava dentro de um determinado contexto social, singular. Único. Ímpar.

Lembro me dos anos 80, quando ainda existiam pessoas marcadas por esta ética do espírito cristão, de dadivosidade, de misericórdia, de empatia, de um comportamento moralmente quase impecável. Penso nesta década como sendo a última a presenciar tais indivíduos que, comprometidos com o bem social, abriam mão de serem favorecidos individualmente. Eram pessoas que reconhecidamente prestavam um serviço comunitário pedagógico através do seu grande exemplo de vida. Poucos eram aqueles que ousavam não seguir os amáveis conselhos dos "crentes", dos "bíblias". Eram metodistas, batistas, presbiterianos, congregacionalistas, assembleianos, católicos (...) Era "a Igreja" que de forma invisível, deixava visível a sua influência na sociedade. Igreja de conduta ilibada. Que tinha crédito nas diversas repartições sociais, que fazia a conversa "feia" parar pois havia chegado um "bíblia".

Esta Igreja desapareceu. Eu tinha razão. Acordei em uma manhã e percebi que ela havia sumido e no lugar dela, surgiu uma mistura de gospel com crenças espiritualistas, acrescida de ideias de autoajuda, e o mais terrível, ela fez surgir aqui, a Teologia da Prosperidade importada da Maneira de ser , de pensar e de entender o mundo com o pensamento americano. O mundo eclesiástico brasileiro estava se curvando ao ideal-capital. E, Tudo aquilo que ela - IGREJA, representava, também sumiu com ela. A moral, o crédito, a ética, o compromisso social, o bem (...) tudo dela, sumiu.

A Igreja como luz do mundo e como sal da terra, morreu. Morreu pois escolheu ser tudo aquilo que Jesus falou para que ela não fosse. Morreu pois fez aliança com o Estado, almejando o topo na hierarquia política-econômica. Morreu pois deixou de ser aquele povinho da bíblia nas mãos, preferindo O microfone, palanques, fama, mídia. Preferiu o "prato de lentilha" vendendo assim o seu direito de governar, não um reino temporal e físico, antes, o Reino Atemporal Implantado por Cristo na terra de paz, amor e das bem aventuranças. Aquilo que vemos hoje, pouco lembra a Igreja dos anos das décadas anteriores - 60, 70, 80... Ou lá, eles mentiram, ou aqui; a igreja de hoje, não entendeu nada!

O arrebatamento da ética, marca registrada daqueles "crentes", é visível e tangível nas ideologias defendidas por parte dos cristãos brasileiros. Uma ética que relativiza os conceitos e ensinamentos do Cristo. Uma ética que não influência de forma positiva a sociedade, algo bem diferente das décadas anteriores. Uma ética que permite tudo em nome do mercado gospel e da empresa denominacional.

O sal da terra se tornou insípido e a luz se apagou. Isto aconteceu quando escolheram Brasília e esqueceram os becos e vielas das favelas. Ousaram pregar algo pernicioso e maligno, vestido de um pseudo evangelho de Cristo. Preferiram "pregar" com palavras de efeito e triunfalista nos horários nobres das TVs, que caminhar de forma simples em seus bairros, influenciando as gerações futuras. Preferiram eleger e SEGUIR os seus ÍDOLOS e seus gurus, cuja as palavras em nada lembram os sermões crísticos; como Malafaia, Feliciano, Casal Renascer, deixando de lado o maior dos homens, Jesus Cristo, Homem.

A igreja foi arrebatada! Sumiu... e nós ficamos.

Professor Moisés

ProfessorMoises
Enviado por ProfessorMoises em 26/03/2020
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