Uma reflexão para tempos sombrios.

Ainda sou daquelas que mantém alguma esperança na humanidade. Acredito que possamos nos aprimorar na arte do encontro depois de tantas frustrações, dissabores, dúvidas e angústias que estamos vivendo. Sobretudo no Brasil varonil, onde existe um gado disposto ao riso sádico sobre a dor alheia.

Mas hoje partilho um texto de Leonardo Boff, o grande teólogo que felizmente teima em ser cristão por toda a vida. Sou imensamente feliz por tê-lo conhecido, pela literatura, há algumas décadas. Já deixei de lado alguns compromissos para assistir suas palestras. Saí rica daquelas humaníssimas falações.

Texto publicado hoje no Diário do Centro do Mundo, nos dando algumas direções para esses tempos de quarentena.

Lá vai:

Leonardo Boff

Já que a quarentena é um retiro forçado, faça como os religiosos e religiosas que todo ano devem fazer um retiro. Algumas sugestões:

Tire um tempo para você mesmo e faça uma revisão de vida.

Como foi minha vida até agora?

De que lado fiquei? Daqueles que estão bem de vida ou daqueles que estão com alguma necessidade, precisam de uma palavra de conforto e de quem é pobre e sofre?

Qual a minha opção fundamental? Ser feliz por todos os meios? Acumular bens materiais? Ganhar um status social? Ou ser bom, compreensivo, disposto a ajudar e ser solidário com quem está numa pior?

Sou capaz de tolerar os limites dos outros, dos chatos e me controlar para não retrucar logo às asneiras que ouço? Sou capaz de deixar passar?

Sou capaz de perdoar de verdade, virar a página e não ser refém de ressentimentos e de maus juízos?

Sou capaz de encontrar as palavras certas quando tenho que dizer algumas verdades e chamar atenção a erros ou equívocos dos outros que estão ligados a mim? Ou vão direto, de modo agressivo, humilhando a pessoa?

Faço, quando levanto de manhã, uma oração, em pensamento e não precisa ser com palavras, pedindo a Deus proteção a mim, à minha família e àqueles com quem convivo e trabalho? E, à noite, antes de ir dormir, elevar a mente a Deus,mesmo sem palavras, agradecer pelo dia, por tudo o que ocorreu e por estar vivo?

Quer tentar fazer uns minutos de pura meditação, onde só Deus e você estão presentes, esquecendo um pouco o mundo ao redor? Só elevar a mente, colocar-se em silêncio diante d’Ele (Tenho um livrinho: “Meditação da Luz: o caminho da simplicidade”, um método que une o Oriente e o Ocidente, deixando que um raio da luz do Alto penetre em todo o seu corpo e em seus pontos de energia (chacras).

Tem a coragem de alimentar uma atitude de total entrega a Deus, sabendo que está sempre na palma de sua mão? Tudo o que ocorrer provém de seu amor. A morte é como um nascimento e ninguém assistiu a seu próprio nascimento. Assim na morte, sem nos darmos conta, cairemos nos braços de Deus Pai e Mãe de infinita bondade e misericórdia. Nunca esqueça as palavras consoladoras da Primeira Epistola de São João (3,20): “Se o teu coração te acusa, saiba que Deus é maior que teu coração”. Então parta em paz sob o manto da infinita misericórdia divina.

Vera Moratta e Leonardo Boff
Enviado por Vera Moratta em 30/03/2020
Reeditado em 30/03/2020
Código do texto: T6901619
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