O VÍRUS DO ATEÍSMO

Na minha concepção, nada humilde, Jesus foi o maior homem que já pisou na terra. O JESUS Histórico, chamado por alguns de "Cristo", que em grego significa "ungido" e que terá o seu equivalente no hebraico "messias"; era um andarilho; um sem teto por escolha própria; um pregador-anunciador apocalíptico; um curandeiro (...) Enfim, e muito mais, era um ser que soube usar a fé em benefício próprio e também em benefício daqueles que o cercavam. A fé crística tinha um alcance e efeito, que estaria para além das questões espirituais, ela era intrometida na fome, na sede, na desigualdade, no dia a dia da comunidade judaica; interferindo de forma a transformar a realidade daqueles que eram alcançados por ela (...)

A fé no modelo bíblico seria o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem. Outra definição, esta, fora dos conceitos religiosos seria a adesão de forma incondicional a uma hipótese que a pessoa passa a considerar como sendo uma verdade, sem qualquer tipo de prova ou critério objetivo de verificação, pela absoluta confiança que se deposita nesta ideia ou fonte de transmissão. A fé acompanha absoluta abstinência de dúvida pelo antagonismo inerente à natureza destes fenômenos psicológicos e da lógica conceitual. Ou seja, é impossível duvidar e ter fé ao mesmo tempo.

O espantoso não é a morte da fé na contemporaneidade, como profetizado por muitos. Isto é fato e até previsível de acontecer. O estranhamento estará no contrário: Como a fé sobreviveu a modernidade ? Como a fé sobreviveu ao Renascimento? Ao humanismo? Ao Iluminismo ? Ao século XIX e todo o seu culto ao cientificismo? Ao Darwinismo; a psicanálise freudiana; a Canção do Zaratustra do Nietzsche; ao existencialismo do Sartre; ao Marxismo; ao Comunismo e por último, ao CAPITALISMO? Diga se uma contradição fenomenal, pois dentro do Sistema Capitalista, não haverá espaço para fé, antes, o Espírito do Capitalismo é exatamente baseado unica e exclusivamente no próprio capital. Quem precisa da fé tendo o capital ? O capital resolve as questões das mais simples as mais complexas e nas mais diversificadas áreas da vida humana como saúde, segurança, educação, moradia, saneamento (...) Repare que nas sociedades consideradas altamente evoluídas; técnicas; desenvolvidas; o uso da fé se torna a cada dia desprovido de significados. O poder do capital superou o da fé dentro daquela cultura mais "adaptada" ao Sistema Capitalista. Os números do ateísmo ou agnosticismo em tais sociedades, ultrapassam e muito as demais. Veja alguns exemplos:

SUÉCIA

85% ateus - 7,6 milhões

População: 8,9 milhões

DINAMARCA

80% ateus - 4,3 milhões

População: 5,4 milhões

NORUEGA

72% Ateus: 3,2 milhões

População: 4,5 milhões

FINLÂNDIA

60% Ateus: 3,1 milhões

População: 5,2 milhões

JAPÃO

65% Ateus: 82 milhões

População: 127 milhões

(Revista Super Interessante de 12 de Julho de 2018)

O ateísmo equivale apenas a 11% da população do planeta, ou seja, 749 milhões de pessoas. Muito pouco. Isto nos revela outra verdade do mundo em que vivemos. Veja. Um levantamento da ONU aponta que países com boa taxa de alfabetização tendem a ser mais descrentes. Em 2008, o pesquisador britânico Richard Lynn concluiu que países com alto QI são mais ateus. É o caso da população japonesa, que mantém a média 105, uma das mais altas já registradas. Em contrapartida, os países e as sociedades mais pobres e mais subdesenvolvidas, logo, com menor recurso destinado a Educação, são aquelas que mais "praticam" uma determinada fé-crença ou até mesmo mais de uma. Veja o Brasil, cuja a população estará em torno de 212 milhões de habitantes, destes, apenas 8,0% (cerca de 15,3 milhões) declaram-se irreligiosos: ateus, agnósticos, ou deístas. Ou seja, mais de 90% da população mantém firme a prática da fé. Compare com outros países do bloco.

*números do IBGE

O que é incontestável para todos, é que a desigualdade social, e uma de suas causas, a concentração de renda, são prejudiciais para o DESENVOLVIMENTO social e possuem sérias consequências na vida das pessoas. A desigualdade é injusta porque impede o desenvolvimento das capacidades individuais, o acesso a direitos humanos básicos, como saúde, educação e segurança, não sobrando assim outra alternativa a não ser a fé como tentativa de resolução dos problemas que afligem o pobre amaldiçoado.

Ter fé não será um estilo de vida; não é uma filosofia repleta de questões teóricas-racionais; não pode ser considerada juízo de valores; tão pouco uma ideologia para os mais desventurado social. Ter fé, para o pobre, é a única alternativa de sobrevivência dentro de um sistema opressor, desigual e que não atende as suas necessidades. É ela que faz o "crente" descer a ladeira e os morros cariocas para ganhar o pão do dia. É a fé que faz com que a comunidade ribeirinha consiga sobreviver em casas de palafitas, geralmente extremamente pobres e com problemas seríssimos de poluição dos rios e esgoto. É a fé dos sertanejos que fará com que eles venham se aventurar em direção às cidades, buscando melhores condições de vida, em vista que a zona rural do interior nordestino também vem sendo alvo de bruscos desestímulos sócio-econômicos que tendem a inviabilizar a permanência humana. É a fé dos semi-áridos que os ajuda a fugir da morte todos os dias.

Dificilmente o ateísmo encontrará solo fértil no Brasil e nos países subdesenvolvidos. Não enquanto tivermos um sistema que empurra o cidadão para a religiosidade, para a crença e para a superstição ao invés de conduzi lo aos bancos das universidades. Não coloco aqui, a ideia da fé associada, diga se, como motor do atraso social; antes, digo o contrário, é o atraso em resolver as questões sociais elementares que levam o cidadão a procurar o seu guia espiritual, o seu pastor, o seu babalorixá (...)no momento infeliz de fome e de extrema necessidade . Muni se o cidadão de educação, saúde, trabalho, moradia e a fé será uma opção e nunca uma obrigatoriedade.

No mais, sem fé é impossível remover a montanha diária.

Professor Moisés