Capitu traiu ou não traiu Bento Santiago, ou melhor dizendo: Bentinho?
 Narrativa escrita por Machado de Assis em 1989, essa é uma pergunta que amantes da literatura se perguntam até hoje. E apesar da obra ter sido escrita há anos, é possível trazer essa incógnita para os dias atuais.
     Em tempos modernos, os romances não se romantizam mais. E se o fazem... Caem no clichê da breguice. Nunca se falou tanto em relacionamentos virtuais, aplicativos de encontros, e diga-se de passagem, (des)encontros. Enquanto há a escolha de atenção para aqueles que estão longe, é possível deixar à mingua aqueles que estão perto. É o amor em tempos tecnológicos. 
     Então, retoma-se a questão: Capitu traiu ou não traiu bentinho? Mas o que isso importa...
     Vale dizer que a intenção é uma traição? O pensamento mais oculto é uma traição? Caso o fato não seja consumado é uma traição? Sim! Traição e lealdade estão em lados opostos de uma mesma moeda.
     Em tempos de whatssap, no início da conquista amorosa, as mensagens chegam na velocidade de um piscar de olhos. Mentes ansiosas, corações acelerados e frio na espinha fazem parte do cotidiano imediato. Frases do tipo: dormiu bem, meu bem?,  já almoçou?  Tenha um bom dia! Vão dando espaço a simplificações de emojis sem nenhuma conexão. A verdade é que com o passar do tempo, as facilidades virtuais contribuem para que outras redes se cruzem e assim se estabeleçam os novos “contatinhos”.
     Nunca as telas de computador e celular foram tão mais importantes que o olho no olho. - Ah...mais isso não é verdade e não vai acontecer comigo! já aconteceu e nem percebeu.
     Quantas vezes já foram organizadas reuniões de amigos e familiares sem que nenhuma palavra tenha sido dita. Olhos vidrados nas telas esperando por mensagens que sequer chegarão.
     Status solitário em facebook e instagram valem mais que o papo descontraído com um amigo, companheiro, familiar.  É pertinente dizer que existem hóspedes no mesmo ambiente familiar porque as pessoas mal se cumprimentam. Quantos likes são necessários para ser aceito pela sociedade? Mas a culpa foi dela, de Capitu, que não se dava o devido respeito.
Não! A culpa foi de Bentinho que imaginava coisas em sua mente doentia e repleta de ciúmes.  É importante ressaltar, que naquela época, as personagens não faziam o uso de redes sociais.  Imagine só!
      Nunca se falou tanto EU TE AMO virtualmente. Eu amo você e vários outros seres da lista de contatos. Nesse contexto, o amor é efêmero em tempos virtuais. Amo-te agora e não amanhã. Preciso de ser aceito, idolatrado. Ciúme é coisa de gente insegura; como competir com aquilo que não se vê? Com aquilo que independe se a companhia atual preenche os vazios diários. Busca -se a perfeição sem ser perfeito. Então qual é o modelo ideal de relacionamento?
 Ah...a culpa realmente foi de Capitu, Capitolina. Com aqueles olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Não! A culpa é de Bento Santiago que enxergava coisas ditadas pela sua mente traiçoeira. Mas seu filho era a cara do seu melhor amigo Escobar. Ilusão ou realidade? 
     Em dias de redes sociais, tudo é ilusão ou realidade? Mensagens camufladas no “zap zap” são ilusões ou realidade? O Amor é uma ilusão ou realidade? O que achas, caro leitor? Tragicômico. Afinal a culpa é de quem? De Capitu ou de Bentinho?