A língua não endoidou
Prof. Ms. Edson Gonçalves Ferreira (Ms)
Qualquer pessoa que, hoje, navegue na Internet pode, de repente, ficar assustada com a língua cifrada que está sendo usada pelos jovens, geralmente, menores de 17 anos. Na verdade, é apenas uma forma de dialeto que recebeu o apelido de bloquês e, para alguns, constitui uma ameaça à Língua Portuguesa. É bom, contudo, ponderar que: “A língua é uma questão de uso e só o costume pode determinar o que é certo ou errado e não o pronunciamento dos gramáticos (Luft, p. 18).
Essa linguagem utilizada pelos jovens que tem construções assim: Awe, mew minino mó tah mt suça...; traduindo: Oi, meu menino maior está muito sossegado, constitui apenas uma forma de ocultamento desses jovens que, no momento atual, em plena adolescência, escrevem seus diários até através da Internet. É apenas um dialeto, a língua não endoidou, atenção.
O problema maior não está no uso desse dialeto, mas no ensino de língua portuguesa que, hoje em dia, por causa dos meios de comunicação, esqueceu de privilegiar a leitura em sala de aula e fora dela, não para fazer as chamadas fichas de leitura. Os alunos precisam descobrir o sabor da leitura prazerosa. Talvez essa seja a tarefa mais árdua que nós, pais e professores, tenhamos. Os professores de Língua Portuguesa precisam redescobrir que têm, na verdade, compromisso também com a literatura.
A juventude sabe que ela utiliza o bloquês somente no ambiente virtual, ou seja, da Internet mas que, na vida prática, necessitará dominar a estrutura da língua como existe e é praticada pela maioria. O uso do bloquês, inclusive, pode ser também uma ferramenta; segundo afirmações de Teresa Cerdeira, professora de Lingüística da UFRJ, na Folhateen, de 01.09.03: ...o jovem que é capaz de manipular assim a língua vai ganhar um grande potencial lúdico da linguagem.
Como já falamos, estamos diante apenas de um novo dialeto que, no caso, é usado na Internet onde a comunicação acontece de forma muito rápida. Os pais e os professores não precisam assustar com esse fenômeno, mas precisam interagir, valorizando a língua padrão, fazendo com que os jovens descubram a beleza da nossa literatura, porque eles mesmos sabem que o bloquês é apenas um modismo e que a língua portuguesa é muito mais rica.
Nós, pais e professores, temos a obrigação de dialogar com os mais jovens e, numa interação constante, mostrar que a Língua Portuguesa é linda e, como já disseram vários gênios da humanidade, é uma das línguas mais belas do planeta, principalmente para se falar de amor.
Publicado no Jornal Agora, em Divinópolis, Minas Gerais.