Topar com o passado

Essa é uma das sensações mais estranhas de se ter, porque nós ocidentais linearizamos o tempo e acreditamos que, dessa maneira, o que passou não pode nunca voltar.

Só que, às vezes, a coisa - que no momento não pode ser denominada de outra forma melhor - não passou de verdade e como o mundo gira e é cíclico (definição muito mais sensata de alguns povos orientais...), acabamos dando de chofre com ela e, nessa hora, o que gira é a nossa cabeça.

No final de setembro, por exemplo, isso me aconteceu. Duas vezes. Uma delas eu estava passando no centro, com as colegas do escritório onde trabalho atuamente quando vi, de relance, numa mochila a logomarca de uma empresa em que já trabalhei. Levantando um pouco mais a cabeça, vi a quem ela pertencia e aí o choque foi ainda maior. Desviei o olhar e apressei o passo. Não poderia sustentar o olhar do passado sobre mim por muito mais tempo.

A outra ocasião foi quando eu passava apressado pelo campus da UFJF e ouvi, de repente, meu nome ecoar no escuro, contrastando com o silêncio: era um amigo dos tempos de colégio quem me chamava. Dessa vez parei. Nâo adiantaria correr, pois além de apenas encarar, o passado gritava meu nome. Não havia fuga possível. Troquei umas poucas palavras, brevemente, e segui adiante.

Agora fico a pensar: que nome dou a isso que ocorreu? Como lidar com o que aparentemente passou (e passou de forma inadequada) quando ele retorna sem aviso?

Definitivamente, melhor seria se não houvesse a noção de passado.