MORANDO NO INTERIOR MINEIRO

Lailton Araújo

Sexta-feira, 17h30, o sol se esconde nas terras de Minas Gerais e o céu ainda nublado, anuncia o início da primavera. As noites - um pouco geladas - trazem muita paz no silêncio quase total das cidades do interior. Nos últimos meses observei terras férteis, bois e vacas pastando, cana-de-açúcar, rios e cachoeiras de águas quase puras e que molham os seios virgens de mulheres bonitas.

Escutando diariamente o sotaque desse povo simples - o mineiro é um caso especial - procurei descobrir o segredo da paciência, e modo de viver de forma não convencional, para os padrões das grandes metrópoles. A falta de visão da existência de novos horizontes depois das serras mineiras - ao olhar de um forasteiro - breca algo latente em qualquer ser humano: a ambição educacional. As conseqüências aparecem nos aspectos culturais, financeiros e políticos de toda a comunidade. Não vou questionar se é bom ou ruim! Afinal sou mineiro por amor e adoção.

Como em qualquer lugar, parece que existem aspectos positivos e negativos no modo de viver do povo mineiro. Vale lembrar que algumas pessoas são amigas e outras: desconfiadas. É gente boa! Com ou sem maldade! Também se mata por ciúme. Algumas mulheres falam da vida alheia - coisa de cidade pequena e grande; as crianças dizem palavrões e outras besteiras interioranas. Existe inveja? Claro que sim! Que povo no mundo não sente inveja? A vida caminha em marcha lenta… Quase parando! Esses aspectos negativos não são assimilados pela comunidade. Quase tudo é resolvido na mais perfeita harmonia. Ou baixaria: briga de faca e de boca mesmo! Quem mata vai preso ou foge pra BH. Quem fala da vida alheia fica marginalizado e pode ganhar o nome de fofoqueiro, falador, boca aberta! As crianças que falam o que não deviam falar recebem puxões de orelhas e cascudos. Quem sente inveja fica sofrendo, angustiado, em plena masturbação mental, e sem coragem de copular. No interior só cresce quem vai atrás de resultados concretos. Os sonhos são apenas sonhos!

Aprendi que tudo tem o seu tempo! É física quântica. É o trem! É a justificativa da alienação. Nesse aprendizado caminhei e deixei de lado a velha filosofia de vida da correria. É a assimilação do lado objetivo e atual. Se tudo tem e terá o tempo certo para acontecer, a ansiedade é inimiga de uma vida longa.

O tempo - mesmo alienante - é amigo da perfeição, e com ele se aprende que nesse mundo, onde tudo parece caminhar na velocidade do momento, a calma, o silêncio e a inteligência são as melhores armas, nessa luta diária contra o poder do descaso, da falta de visão política e informação global. O sentimento humano é apenas mais um detalhe nas montanhas e cachoeiras do Sul de Minas, e de outras partes do Brasil e do Mundo.