Faxina

O vento soprava, os carros corriam, o gato pulava no telhado e ela estava agoniada.

Estava deitada na cama, refletindo sobre a vida e imaginando tudo diferente, nada lhe agradava, nem os relacionamentos, nem o trabalho, muito menos a política, estava um caos. Apesar de tentar se livrar dos pensamentos malucos que lhe ocorriam, às vezes não conseguia parar de pensar na vida que teria se o mundo fosse diferente, mas não podia mudar o mundo real, infelizmente.

O fato é que vivia agoniada. Preocupada com o que vai acontecer amanhã, pensando no que vai ter pro almoço mais tarde, sonhando sobre um amor bonito que nunca aconteceria no futuro. Mas queria mudar, fazer uma faxina, isso mesmo.

Começou pelo coração, namorados babacas? Jogou todas as lembranças no lixo, demorou um tempinho, era muita coisa pra se livrar. Todo o ressentimento do pai? Esse ela se livrou só de uma parte, tinha um problema com rancor. Não mexeu nas coisas boas, essas podiam ficar, mas fez questão de tirar a poeira da pobre e abandonada gaveta das paixões, vazia no momento.

Deu uma limpada de leve no corpo todo, as energias negativas estavam por todo canto, não conseguiu sucesso em todos os lugares, à propósito, alguém sabe algum produto bom pra tirar manchas de preocupação?

O trabalho era árduo, mas a pior parte estava por vir, a cabeça, tantos problemas alí em cima, nem água sanitária pura ajudava naquele caso trágico, o jeito é fazer um paliativo, colocar aquela sujeira debaixo do tapete, esconder aquele trauma dentro do armário, essas coisas. Começou a mergulhar nos pensamentos mais profundos e se pegou chorando, não acabaria nem tão cedo, então decidiu largar o trabalho pela metade mesmo, deixa para outro dia. Se sentia bem mais leve, saiu saltitante depois da limpeza.

Não seria esplêndido se as coisas funcionassem dessa forma? Ela também achava, por hora, desfrutava da formidável frustração que era a sua vida, chorando quando necessário e xingando o universo sempre que podia.