O Último dos Pinheiros

Na minha rua existe um pinheiro. Existe um único pinheiro na minha rua. Em meio ao cinza dos prédios e algumas poucas amendoeiras, ele fica lá, quieto e solitário. Gosto muito de admirá-lo, pois de algum modo ele me transmite paz e sossego.

Dias atrás eu recebi a notícia de que um prédio será construído no terreno onde ele está. E isso me deixou mais triste do que a vez que o porteiro arrancou o boldo que eu plantei clandestinamente no jardim do condomínio. Só de saber que não o verei mais, bateu uma certa angústia misturada com revolta. Até penso em tentar impedir a construção desse prédio, mesmo que seja me colocando em frente a escavadeira e proferindo a famigerada frase "você só passa se for por cima do meu cadáver". Aceito adeptos, inclusive, para me ajudar.

Acredito que aquele pinheiro não tem apenas valor sentimental para mim, mas também para as aves que n'ele habitam e fazem uso. Imagino que falta faria aquele único pinheiro para o tanto de passarinhos que o adornam durante o dia, a tarde e a noite. Não tenho dúvidas de que o pinheiro, para eles, é mais do que uma árvore bonita. É também seu ganha pão, seu coreto, seu lugar de paquera e sua casa. E se expandirmos mais nossa visão, podemos imaginar também quantos insetos vivem e dependem daquele singelo pinheiro.

Agora escrevendo, penso que talvez o pinheiro não seja tão solitário. Pelo contrário, me parece mui querido. Na verdade, amado por uns, mas infelizmente indiferente ou odiado por outros. Mas a sociedade é assim... enquanto uns ganham um novo lar, animais são despejados, aprisionados ou mortos. E quando me refiro a animal, incluo o Homo sapiens também. Afinal, se fazemos isso com o nosso semelhante, imagina com outras espécies, não é mesmo?

Pois é... um pinheiro tem muito a nos ensinar. Quem sabe um dia eu plante um clandestinamente no meu condomínio. Prometo, porém, avisar ao porteiro.