Pandemia. Entre a fé e o pessimismo.

Em outros escritos meus, já deixei claro a minha antifé e a minha predileção pela ciência naquilo que diz respeito a solução para o problema da pandemia do coronavírus, e em tudo aquilo que este vem causando na economia e mesmo na política mundial. Sou sabedor que quando Opto pela ciência e não pela fé-religiosa, posso ter o descuido de também coloca la em um local de mera procissão e crença com a desculpa de racionalidade. Ou seja, poderei transferir a minha crença da fé religiosa para uma crença na ciência e nos seus resultados. Talvez tenha sido este, o grande erro da "geração" da segunda metade do seculo XIX e anos iniciais do séc XX. Acreditava se no cientificismo com a mesma fé que acreditou se na religiosidade e em todas as suas teologias, dogmas e doutrinas. O mundo "idealizado" em cima do altar da ciência, resultou de logo e de pronto, em "duas" grandes guerras.

Bem. A minha opção pela antifé, é RESULTADO sim, do meu deísmo, mas, muito mais do meu pessimismo. Um pessimismo que nasceu das leituras do Schopenhauer e do Nietzsche, mas também da vida. Logo, ele não é chique como diria o Filósofo agnóstico Luiz Pondé. Um pessimismo que não me deixa enxergar Graça alguma nesta desgraça que venha resultar em mudanças e transformações sociais significativas. Ao menos não vislumbro isto na nossa sociedade brasileira. Não consigo perceber uma melhoria dos nossos péssimos hábitos cotidianos quando esta "crise" pandêmica passar. Os nossos "maus hábitos" irão continuar sendo "nosso"! Da não higienização, em especial das mãos e de tudo aquilo que ela venha tocar, até ao não cumprimento das regras e das diretrizes dos transportes "público-coletivo", que determina a quantidade das pessoas assentadas e o limite daquelas que estarão sendo transportadas em pé. O lavar as mãos é um ato individual, simples; já a questão do transporte público, é algo mais burocrático, complexo e muito mais de fórum coletivo. Por isto usei os dois "casos", para exemplificar aquilo que penso que acontecerá no campo individual e no coletivo, no pós crise.

A sociedade do ajuntamento, do aperto de mãos sujas, do espirrar e tossir ao ar, do falar alto, do cuspir ao chão, do beijo carnavalesco, do sexo sem preservativo, continuará. Assim penso de igual maneira, os hábitos de dadivosidade, filantropia e de empatia social, presentes nesta situação, tenderão a escassear. Temos a ideia de que o povo brasileiro é cordial, pacífico e dadivoso; mas este pensar não corresponde aos números das estatísticas dos confrontos (brigas) no trânsito, por exemplo; em situações de normalidade do dia a dia. Os grupos facciosos; o tráfico de drogas, de armas e de pessoas; a corrupção; o escravismo; o desmatamento florestal; a desigualdade econômica-social, o desrespeito as normas e regras sociais, ainda estarão presentes no âmago social brasileiro.

Não tenho fé no homem. Não penso em um sentimento, um espírito de boas novas, envolvendo a mentalidade do povo brasileiro como um todo. As mudanças serão pouquíssimas, raras e em solo da individualidade. Existem locais do nosso território que não sabem da existência deste vírus mortal, e se sabem de sua existência, pouco sabem ou nada sabem, de como combate lo. São os "Não Lugar" brasileiro, assim como alguns cantões africanos, são para o mundo. São áreas isoladas, sem a tecnologia, com pouquíssimo contato com as áreas centrais do Brasil - São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Minas e outros dois. Não acredito em mudanças forçadas.

Sou cético em relação as mudanças que acontecem de fora para dentro. A maioria das mudanças repentinas e realizadas em curto prazo, são infrutíferas. Sem querer fazer previsão futurística, posso afirmar que esta crise não terá este poder de transformação, ao menos, não em tão pouco tempo do término. Até porque, as mudanças e as transformações que a nossa sociedade precisa; para acontecer, haverá a necessidade de um amplo debate, de uma força de vontade coletiva, de um querer político, de um abrir mão dos grupos economicamente abastecidos, de uma estrutura educacional de base, de um Estado forte e eficaz no atendimento as ânsias da população desabastecida, na moralização das três estruturas de poderes, nas reformas emergenciais de base, na aplicação do Estado Laico, na ampliação dos direitos e da inclusão das minorias e seu efetivo reconhecimento como cidadão, com direitos e deveres a cumprir (...)

A transformação que precisamos é um processo a longo prazo, e nunca um milagre, logo, a fé se fará inútil.

Professor Moises.

filoliveira
Enviado por filoliveira em 04/05/2020
Reeditado em 04/05/2020
Código do texto: T6937039
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.