DÁ PRA ACREDITAR?!
Luciano olha nos olhos do amigo e sentencia: Pandemílio, OVNIs não existem, é fruto da sua imaginação!
— E se eu lhe disser que já ví um disco no terreno da minha chácara?
— Pelo amor de Deus!
— É engraçado. Você não acredita em ET, mas evoca Deus a todo momento.
— Pera lá! Mas Deus existe. Onipotente, Onipresente, Onisciente…
— Luciano, se Deus, que ninguém vê, existe… por que o OVNI que eu disse que vi… não existiria?
— Deus é um ente abstrato, sagrado e…
— Vamos fazer assim, Luciano, passe amanhã lá na minha chácara. Você verá a marca no gramado onde o disco pousou.
— Ah! Ah! Ah! Combinado. Quero ver isso beeem de perto.
No dia seguinte, Luciano chegou cedo na chácara de Pandemílio.
— Êita! Tá pronto pra ver a marca do disco, Luciano?
— Pára, Pandê! Essa prosa de disco é furada. Eh! Eh! Eh!
— Entre e coloque suas coisas na casa. Logo, verá que eu mato a cobra e mostro a marca dos ETs. — E riram muito enquanto tomavam um cafézinho coado na hora.
Minutos depois, os amigos rumaram para o local onde Pandemílio disse ter visto o tal objeto. Uma área do tamanho de um campo de futebol e forrada de capim cidreira, tendo ao centro um círculo regularmente amassado, em contraste com a vegetação adjacente.
— Tá vendo? Olha o marcão no chão.
— Bah! Qualquer um pode amassar o mato assim.
— Qualé, Luciano! Com essa perfeição e sem danificar o mato? Veja as fotos que fiz de cima, com o drone que comprei.
— Tá explicado! O disco que você disse ter visto é o seu próprio drone! Ah! Ah! Ah!
Luciano tripudiava sem cessar Pandemílio. À noite, um belo céu escuro descortinava estrelas rivalizando com a luz da varanda. À mesa, gargalhavam alto. O calor era forte e a cerveja gelada temperava a reunião. Piolho, o cãozinho da casa, aninhou-se entre as duas cadeiras, sobre um pequeno tapete.
Após o jantar, bateu o sono e cada um se ajeitou como pode nos quartos da casa.
Uma sinfonia de grilos apoderou-se da noite rivalizando com o ressonar de Luciano em um quarto e de Pandemílio em outro pela noite adentro.
Lá pelas quatro horas da manhã, Piolho disparou para o quintal latindo alto.
Luciano, por conta do ruído, acabou despertando. Como Piolho silenciara, Luciano relaxou e novamente adormeceu.
Ao amanhecer, como de hábito, Pandemílio dirigiu-se à cozinha para montar a mesa do café da manhã. Foi então que notou a porta do quarto de Luciano aberta e sua cama vazia. Não havia ninguém no banheiro. Buscou-o então em todos os lugares da casa, e nada. Nisso, ouviu o ladrar de Piolho ao longe.
Seguindo o latido, foi caminhando pelo terreno da chácara buscando por Luciano. Já imaginava o pior. A 50 metros dele, bem próximo do círculo do OVNI, surgido em meio à plantação de cidreira, avistou Piolho. O cãozinho estava ao lado de um novo círculo, lateral ao anterior. Para o espanto de Pandemílio, lá estava Luciano deitado ao centro do círculo, com cara de ressaca. E, contendo o riso disse:
— E aí, Luciano? Veio dar as boas-vindas aos ETs?
O amigo, logo notou onde estava e a evidência de um novo círculo. Estupefato, levantou-se e caminhou ao redor do círculo profetizando:
— Milagre, milagre! Só pode ser isso. Mais uma prova da existência de Deus.
E, dissimulando um sorrisinho amarelo, dirigiu-se ao lado de Pandemílio e de Piolho para a casa, onde fariam a refeição matinal. Abençoada por Deus, diga-se de passagem.