Não Agradeço ao Covid (adaptado)

O Vírus Veio pra Te Ensinar Alguma Coisa?

Não, não veio. Mas pode nos mostrar o quanto a vida é frágil e quanto tudo pode mudar tão rapidamente. Algumas pessoas irão mudar, repensarão suas vidas e darão outros significados ao que normalmente tomava como banal e sem importância. Haverá também aqueles que não aprenderão nada com isso, mas aí vem o segredo: o que temos a ver com isto? Vamos pensar!

Nossa vida frágil é também o tempo que dispomos. Um tempo precioso para fazermos algo de bom, algo que achamos relevante, algo que entendemos ser a nossa missão no mundo. Não há tempo para julgamentos, são inúteis.

Sua vida não é banal, mas é frágil. E por ser frágil, precisa de cuidados.

Hoje estão quase todos presos dentro de casa. Por tanto tempo culpamos sempre os outros pela nossa falta de tempo, por nossas frustrações e decepções. Nosso profundo rancor pelo mundo e mágoa com as pessoas não são forças transformadoras do mundo, mas com certeza o pioram. É preciso não gastar mais tempo com isto, com tudo que não tem a ver com sonhos.

Não controlamos o tempo e nem todas as circunstâncias que sustentam a frágil condição da vida. A vida é o que você faz com ela. A vida não bate em sua porta para te dar um manual de instruções. Não há ninguém capaz de te oferecer um plano, um projeto de vida, que seja melhor do que o que nasce em seu interior.

Qual o melhor plano para a sua vida?

É aquele pelo qual vale a pena lutar. E que torna a vida, para que nela possa realiza-lo, extremamente valiosa. No fundo nem lutamos pela vida, lutamos pelo que podemos fazer de especial com ela. Se preparar e se cuidar são imprescindíveis para que desta vida se faça brotar os sonhos e estes darem frutos.

Lutar pela vida, então, é lutar pelo direito de poder sonhar e continuar sonhando. Lutamos por nossos sonhos e projetos, enquanto acreditamos lutar pela vida. A vida é esta condição que temos para ser feliz, um meio para algo maior. No sentido em que não simplesmente vivemos, mera sobrevivência, mas sonhamos: o mesmo que tentar fazer algo maravilhoso com o dom raro e frágil que é a vida.

Agora olhando um pouco para fora de nós mesmos. Como é a vida que os outros levam? Falamos a pouco que a vida é um meio para sonhar. Quando perguntamos como o outro vive, perguntamos na verdade que condições ele tem para realizar seus projetos e sonhos e desta forma a si mesmos.

Na verdade, muitos estão limitados a sobrevivem e com muito custo. A pobreza é quando falta à vida as condições para se realizar como pessoa, este que sonha e projeta. Há a pobreza de oportunidades e recursos e também há pobreza de espirito. É desta, os sinceros poderão confirmar, que se origina a primeira, ao nos tornar indiferentes e cegos a miséria imposta ao outro.

A vida pobre de espírito não é fértil aos sonhos, ela carece da empatia, da autoestima e do amor necessário para cultivar os sonhos. Nela os melhores sonhos não vingam. É da condição humana sonhar, isto antecede a condição de rico ou de pobre.

Há aqueles que têm muitas condições para serem felizes. Têm conforto, oportunidades e dignidade, mas falta o espírito. Falta valorizar o que tem e enxergar que tem o suficiente, mas que o caminho a seguir só ela mesma pode definir. Pensamos, em meio a abundância, não termos o suficiente, consumindo cada vez mais, enquanto outros sonham com o que temos e achamos ser pouco.

Às vezes nossa vida se encontra pobre por nos faltar o amor próprio ou o amor ao próximo. A vida não se encontra então facilmente propícia aos sonhos.

Reclamos então que não somos amados, mas também não amamos. Reclamamos que não se importam com nossos sentimentos, mas também não nos importamos. Reclamamos de quem nos viram as costas, mas também desprezamos quem não nos interessa.

Queremos o mundo e não damos sequer a nossa atenção e tempo a quem precisa deles.

Reclamamos da indiferença do mundo e da falta de generosidade das pessoas. O que fazemos neste sentido? Reclamamos que não somos ouvidos e quem ouvimos? Podemos fazer tudo diferente agora. Por que sabemos que o mundo agora é o outro. O que fazemos a ele, fazemos também a nós mesmos.

O que podemos aprender com o Covid-19?

Nada, se primeiro não entendemos a vida como um dom, uma graça. E isto não será um vírus a lhe mostrar, mas a forma como poderá ver a si mesmo e o outro daqui em diante. Dá pra fazer tudo diferente e esta é a maior oportunidade que poderíamos ter.

Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós – Jean-Paul Sartre

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 09/05/2020
Reeditado em 10/05/2020
Código do texto: T6941810
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