Estar de azul

Já falei em outras ocasiões sobre as sensações que uma roupa toda azul me suscita. São basicamente duas: recordação da infância e estado de alma bom, isto é, paz interior e exterior.

Mas por esses dias estou num imenso turbilhão, engolfado por ondas de problemas, cansado, abatido. E estou me vestindo de azul, saí com roupa azul por dois dias seguidos.

Não, não estou de bem com a vida. Nem estou de bem comigo mesmo. Muito menos pretendo lembrar da infância agora. Aliás, lembrar qualquer época pregressa não alterará em nada os problemas. Pelo contrário: vai até torná-los mais doloridos pois verei a senda que trilhei e que me conduziu da inocência de ser criança para a desestrutura e incompetência do mundo adulto.

Escrevo assim porque ninguém me contou que existe inferno astral depois do aniversário; que se a gente não se cuidar entra num turbilhão e fica deixando coisas e mias coisas por fazer e, ao mesmo tempo, deixa de SER: gente, feliz e desimpedido...

Fica a pergunta: porque, então, manter a vestimenta azul? Uma resposta poderia ser simplesmente a falta de opções de cores no guarda-roupa, que não é o caso. Assim, resta uma outra, mais poética um pouco.

Eu poderia alegar que mesmo em meio a furacões e tempestades o céu permanece azul, ainda que seja, às vezes, um azul escuro e quase negro. Para ver o azul, será necessário voar ainda mais alto que as intempéries todas e, então, manter uma roupa azul seria o ponto e partida desse vôo salvador.