Pequena grande cidade

- De qual cidade você é? Perguntavam meus colegas no meu primeiro dia de faculdade.

- Santa Isabel.

Dali em diante o rosto de todos se transformava em um enorme ponto de interrogação. Era preciso sempre completar: “- Ali, ao lado de Arujá!”

- Ahhhh!

Só assim as pessoas se davam conta onde ficava a pequena grande cidade.

Eu e o meu irmão somos nascidos e criados em Santa Isabel, cidade em que meu pai nasceu e aquela que acolheu a minha mãe que logo a adotou como cidade do coração, após quase 27 anos morando aqui.

Engraçado que com essa pandemia eu torci muito para que o vírus não encontrasse a minha querida Santa Isabel, que só mais dessa vez ela passasse despercebida e que eu não ligaria, mas, ao que parece, o vírus chegou até nós e o que eu tenho visto e vivido tem me agoniado.

A praça da bandeira tem gosto de saudade. A pipoca, churros, o pastel.

Tomar aquele chopp, naquele bar com os amigos está fazendo falta.

Não se escuta mais o som de dentro das lojas, não há música, nem lojistas nos chamando para ver a promoção do dia.

Forúm, cartórios, salões de beleza, restaurantes...nossa como eu queria comer um churros da praça agora.

A falta dos rostos ao andar pela avenida, assusta.

Eu sempre quis saber como era morar em uma cidade grande, em que não se via rostos conhecidos a cada esquina. Agora sei. Confesso que não gostei.

Tem dias que eu quero ir a uma padaria, um dos serviços essenciais que não nos deixa esquecer da gentileza que é morar em uma cidade pequena. O bom dia, boa tarde, quer um pão de queijo? que saudade!

É...a cidade que era pequena ficou grande para nós.

Mas vamos superar isso. Os isabelenses sempre superam. São obrigados, por sobrevivência, a resistir.

Dessa vez, o adversário é invisível, mas temos tantos outros visíveis que não deixam a nossa cidade crescer. Que depois dessa “guerra”, travemos o bom combate para Santa Isabel ser o que ela sempre esteve destinada a ser: O Paraíso da Grande São Paulo.

Que essa experiência seja o despertar de nós, isabelenses, nascidos e adotados. Que a transformação aconteça de dentro para fora, para que quando essa luta termine, possamos honrar de uma vez por todas a nossa terrinha.

Ingrid Zanini
Enviado por Ingrid Zanini em 09/05/2020
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