A VIGÉSIMA QUARTA HORA

Como nossas reações, frente às vicissitudes da vida, são estranhas, não?

A maioria, ao ultrapassar a barreira das seis décadas de existência física, evita ou não aceita a ideia de ser pessoa idosa. Primeiro apela aos artifícios, para parecer jovem, daí tenta frequentar academias, turbinar exercícios (além da conta), para tentar transformar as pelancas nascentes em músculos rígidos, além de evitar roupas “de velho” (vai saber, né?).

Pancrácio adentrou o clube da “melhor idade” sem muitos traumas. Seu nome foi um peso que carregou, conformado, até então. Inclusive, quando se cadastrou no “Face”, teve a iniciativa de se apresentar como Panc. É claro que isso resultou em razoável confusão.

O termo PANC é sigla de Plantas Alimentícias Não Convencionais, ou aquelas que não costumam fazer parte regular dos cardápios, e que chamamos de mato, mas são comestíveis, nutritivas, alternativas. Há grupos que trocam várias informações sobre elas.

Muitos não levaram a sério o apelido de Pancrácio. Ele explicava que seu Panc só tinha “P” maiúsculo, mas foi criticado, zoado, e ao invés de mudar, resolveu filosofar, explicando que todos nós também podemos ser considerados PANCs, pois servimos de pasto aos vermes e microorganismos durante a vida, e, principalmente, após o derradeiro suspiro, quando esses bichinhos nos transformam num verdadeiro e final banquete. Excetuando-se patologistas e mais alguns, ninguém gosta de pensar em como isso funciona, nem saber a respeito. Trilhões de microorganismos nascem, crescem e morrem em nosso organismo, alimentam-se de nossos tecidos, fluidos, do que comemos, e graças a muitos deles conseguimos nos manter vivos, operantes. Sua falta pode nos levar à morte ou incapacitação.

Estamos acostumados ao fantasioso status de espécie dominadora no planeta, sem admitir que precisamos da fauna, flora, meio ambiente, micro viventes, para podermos existir. Acostumamo-nos a acreditar no que vemos, tocamos, podemos acompanhar. Sabe a piada que diz que ninguém nunca viu cabeça de bacalhau, chester vivo, manual de instrução de fusca, político honesto e otras cositas? Pois é! Mas tudo isso existe, pode crer!

O que conseguimos entender, alcançar, apreender da vida, usualmente, não chega nem a uma fração considerável do que há, efetivamente, a nossa volta, e muito se oculta aos nossos sentidos, ao nosso raciocínio, por sermos, sensorialmente, bastante limitados.

Vemos ocorrências, tendências, atitudes, reagimos com simpatia/antipatia, crítica/apoio, reclamação/elogio, e até violência. Uns se conformam, outros se indignam, há os sensatos e quem use estratégias rasteiras, em assuntos pessoais, grupais ou mais amplos. Há quem veja a coisa em si ou enxergue entrelinhas, facetas ocultas, forças nas sombras. Forçoso ressaltar os avanços tecnológicos, que forjaram a globalização interativa, descobrindo a trama maior que nos envolve. Povos, comunidades regionais, sempre foram manipulados (massacrados, física, mental e moralmente) por elites, governos diversos, ostensiva e dissimuladamente. Na dissimulação reside o maior perigo e estrago, porque é simples fazer acreditarem em mentiras, golpes, aberrações, levando multidões ao vazio social, sofrimento, ruína, aceitando tudo passivamente, sem usar a mente fora de limites impostos, como únicos aceitáveis.

Como dá para perceber, Pancrácio foi longe em sua jornada filosofante. Mas, como de costume, não convenceu. Filosofar ainda é atitude solitária, desprezada e execrada, por gerar incomodação, constrangimento, rebeldia, necessidade de disciplina. Ninguém quer isso!

Há sinais, evidências, de que se aproxima a vigésima quarta hora. Sabemos que o dia (incluindo a noite) tem vinte e quatro horas, e que a meia noite (24 horas) encerra o dia, ainda que também inicie o próximo. Alguém já viu o relógio marcar o número vinte e quatro?

É claro que não! Ao se encerrar o dia, imediatamente vem a zero hora do dia seguinte.

É, todavia, a vigésima quarta hora, que nunca vemos, a que foi anunciada por profetas e videntes, além do mestre dos mestres, como o tempo final das revelações. É quando teremos a percepção abrangente e completa do que ocorre, verdadeiramente, e de como, após visíveis e desarticuladas, as redes manipuladoras se desmantelarão. Exatamente como foi previsto.

Muito do que nos envolve é imperceptível aos nossos sentidos diretos, e só podemos intuir, acompanhar revelações eventuais e viver no reto agir, tentando mínima preparação para o que há de vir e se apresentar, mudando todo o cenário. Nossa mente é nosso relógio interno, e se estiver calibrada com o desapego ao mal, ao individualismo, acionando, gradativamente, o amor ao próximo, anunciará a vigésima quarta hora, indefectivelmente, quando for preciso.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 09/05/2020
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