Me dá um Beiju, meu amor!

Eu mencionei a fartura que havia no começo, quando a terra ainda estava boa para plantação, antes que o pai estragasse todo o solo. Falei da abundância de batatas, Inhames, mandiocas, canas e de comidas que levavam milho. Mas agora gostaria de dar duas palavrinhas em especial sobre uma das delícias que brotaram daquele chão abençoada, direto para nossa panela e depois para nossos ávidos estômagos – o Beiju.

Bem, até aonde eu sei, o Beiju que nós fazíamos faz parte de uma tradição alimentar a qual meus antepassados se apropriaram de povos indígenas – não sem antes destruir boa parte de sua cultura e exterminar parte da sua população – e que chegou até nós através dos meus avôs, que aprenderam com seus pais, no caso, meus bisavôs, que também aprenderam com seus pais. Enfim, talvez seja possível retroceder isso até a chegada dos portugueses por aqui, nessas terras tupiniquins.

Assim como faziam os indígenas, o preparo do Beiju lá em casa era uma espécie de ritual que começava com meu pai colhendo, arrancando as raízes de Mandioca que foram plantadas por ele meses atrás – planta-se pedaços dos galhos, conhecido como Manivas, em uma cova de mais ou menos dez centímetros de profundidade –, e as trazendo para minha mãe descascar, lavar, ralar em ralador feito especialmente para a função e por fim torcer, espremer a massa em um pedaço de pano para retirar seu liquido, deixa-la sequinha.

Nesse ínterim, enquanto tudo estava sendo preparado, a enorme frigideira que era usada para assar os apetitosos Beijus já ia sendo aquecida no fogo, estralejando, almejando pela Massa de Mandioca temperada com algumas pitadas de sal e nada mais. Óbvio que eu e minha irmã também saltitávamos por ali, salivando, ansiosos para comer com café aquelas rodelas de Beiju passadas na manteiga.

Ah se eu pudesse descrever a sensação de prazer das primeiras dentadas junto com os primeiros goles de café!

Tiago Torress
Enviado por Tiago Torress em 11/05/2020
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