CARICATURAS CUBISTAS 4

NASCE UM CARICATURISTA CUBISTA

Nelson Marzullo Tangerini

Em 11/5/1926, aparecem as primeiras caricaturas de Nestor Tangerini, desenhos em estilo cubista (ou geométrico). O mitológico Cine Eden, outro ponto de encontro dos "parisienses", depois do Café Paris, que orgulhava-se de ser “o melhor e mais ventilado de Nictheroy”, solta uma pequenina brochura com desenhos e textos do artista sobre as misses que encantavam todo o país, naquele ano.

Segundo amigos de Nestor Tangerini, o poeta mostrava sua habilidade também ao piano. Lia partitura, e, portanto, mostrava naturalmente o seu talento no Cine Éden ou em festas. Ele e Luiz Leitão, também um talentoso pianista, dividiam o mesmo espaço, ora um, ora outro, animando o referido cinema [e teatro], tocando até que uma peça ou a fita [o filme} começasse.

Após mudar-se para o Rio, na década de 1930, Tangerini continuará fazendo suas caricaturas cubistas exóticas para a revista carioca OQA, onde também encontramos crônicas suas assinadas com outro pseudônimo: A Del Mar de Barros. Suas caricaturas repercutem de tal maneira, que seu trabalho passa a ser capa da revista.

Paralela a publicação de seus trabalhos na revista OQA, são editados, também, Cartões Postais referentes à Revolução de 1930. Nesses cartões, encontramos caricaturados: Júlio Prestes, Oswaldo Aranha, Getúlio Vargas, João Pessoa, entre outros políticos – revolucionários e deportados.

Com o fim da revista OQA, Tangerini, em 1947, funda, com Maurício Marzullo, seu cunhado, e com o Prof. Zé Bacurau, pseudônimo de Lourival Reis, seu amigo, a revista de humor e sátira O Espeto, onde seus textos são publicados com diversos pseudônimos como Humberto dos Campos, Conselheiro Armando graça, XX Mirim, DomT, T e José Oitiçoca.

Após um violento desastre de ônibus ocorrido em Benfica, Zona Norte do Rio, em 1940, e bastante comentado em jornais cariocas, Nestor Tangerini perde o braço esquerdo, encerrando, assim, a sua carreira de pianista.

Mas o artista não se entrega, e continuará escrevendo peças para teatro, poesias, crônicas e fazendo suas famosas caricaturas cubistas, que, agora, em 1947, portanto, aparecerão nas páginas ou nas capas da revista O Espeto, da qual falamos há pouco. Dinah nos conta que o marido fazia a revista praticamente sozinho e com o seu dinheiro. E O Espeto quebra e deixa de circular no início de 1948.

Na revista O Espeto, por exemplo, Nestor Tangerini publicará suas caricaturas cubistas, agora retratando a vida cotidiana, Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra, Stálin, o Prof. Zé Bacurau, poeta e humorista baiano.

Um livro de Caricaturas Cubistas, contendo os seus trabalhos, publicados nas décadas de 1930 e 1940, vem sendo preparado por mim, para um futuro próximo.

O sonetista parnasiano, ou pós-parnasiano, entra na década de 1930 influenciado pelo pintor cubista Pablo Picasso e, creio, a influência se acentua quando Guernica é violentamente bombardeada pelos alemães. Como se sabe, Domingas Tambourideguy, mãe do artista, era uma gaúcha filha de pais bascos franceses.

Tudo isto, porém, são especulações de uma pessoa que pouco viveu com o pai. Baseio-me em conversas ouvidas em minha casa e na casa de minha tia Elsa, irmã de Tangerini.

Falava-se, também, que o sobrenome Tangerini era de origem árabe marroquina, sobrenome que vem desde o sr. Yussuf Tangerini, pai de Vicenzo Tangerini, que era pai de Vittorio, meu avô, que era pai de Nestor Tangerini, meu pai.

Se mergulhasse em uma profunda árvore genealógica, acabaria, por certo, encontrando um homem, ou uma mulher, do paleolítico. E, mais distante, um primata em cima de uma árvore.

Toda esta viagem nos leva a uma pergunta constante: O que é a arte? Por que somos artistas? Para os meus alunos, digo que o homem nasce, cresce, reproduz e morre. E que seria monótono, para ele, seguir as leis fundamentais da Biologia. Algo nos inquieta e precisamos ver e ler o mundo à nossa maneira. Precisamos reescrevê-lo, através da literatura, do teatro, da música, da pintura, da escultura, da fotografia, do cinema, entre outras formas de arte. Então, fazemos arte, desde os tempos da caverna, porque a arte dá sal à vida, nos liberta do compromisso com a morte e nos torna imortais, porque viver apenas não basta, como diria o poeta maranhense Ferreira Gullar, imortal pela Academia Brasileira de Letras.

Ferreira Gullar inquietava-se dentro de seus versos, dentro de sua escritura, entregando-se, posteriormente, e perdidamente, ao estudo do universo da pintura, sabendo que o significado da arte será sempre, filosoficamente, uma pergunta eterna. Desde quando os primatas desceram das árvores para caminhar sobre a Terra e ganhar o mundo.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 12/05/2020
Reeditado em 15/05/2020
Código do texto: T6945239
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.