O CAUSO DOS "TROCA-TROCA"

Seu Izidoro é homem bom e da terra. Tem sítio, trator, carro novo, cavalos e bois de raça. Pedi pra ele me contar a sua vida e o segredo de seu sucesso.

Homem simples e sem frescura, não pestanejou em me falar. E disse ele:

— Desde cedo, moradô do Sítio do Catiripó, aprindi a vivê uma vida pra lá de sem luxo. Eu e minha Vardirene, uma moça com cara branca que nem ovo. Tem cabelo marelo e um par de perna que endoidece os vizinho. Tem dois peito que se desse leite de ordenhá, matava a fome de todos os bezerro do sítio. Eu tinha vinte ano, quando o meu véio pai Filomeno foi pro bréjo do senhô. Por sorti, casei eu mais a Vardirene nas terra do Catiripó. Aqui tem arvi di frô e de fruto, água de qualidade, chão bão que só veno. Juntei os trapo di veis com a muié e tô aqui. Inté hoje. Fresco de casado, comecei a me virá. Eu mais a muié. Foi a sorti.

Pesquei um cesto gordo de tilápia no rego d’água do sítio e troquei por 5 galinha do Néco do Marmelo. Ele achou mais de bão e eu tamém. Vortei pra casa e ela feiz canja de uma das penosa, chuchu e as foia de salada da horta. Êita, codeloco!

Os ovo que sobrô, deu cria e pinto, que dispois de grande, juntei dois caxote cheio e troquei por uma porca de leite. EhEhEh! Ninguém entendia pruquê eu tinha as coisa, mais eu tinha as coisa, Uai!

A porca ficô gorda. Tanto, que o vizinho da ribera, seu Tião, falô pra mim:

— Ô, seu Izidoro, tenho dois bezerro magro. Quer me dar a bicha na troca?

Cocei os cocorôto, cocei os cocorôto e fiquei com eles. — Logo cresce e vira bife do bão, disse o Tião. Rimo duns causo gozado e no finar, cabô ino embora com a porca.

Foi então que pedi para o Seu izidoro me contar como conseguiu equipar o sítio com carro e trator. Foi tudo na troca, perguntei a ele.

— Pois é, seu Juvená. Os bezerro crescero e de tão bitelo que ficaro, cabei trocano por uma vaca de leite e 4 cabrito novo. A Vardirene oiô a vaca e disse: vai dá leite até umas hora essa aí. E não é que deu?! Eu sei que de vaca de leite em vaca de leite, de cabrito em cabrito, cabei trocano tudo por uma picape de cabine nova. Ficaro uns boizim de corte que troquei por umas sacada de milho do sítio do Lizantonho. Dispois passei pra frente na troca por semente de quiabo. Prantei e forrô as terra de uma ponta até as otra. Aí veio mais boi e prantei cana tamém.

— Mas seu Izidoro, e o dinheiro? O senhor deve ter ganho dinheiro!

— Que dinhero? Pra quê? Troquei a picape por um arado e dispois por um caminhão que usava pra ir pra cidade. E veio a chuva e tudo foi de uma troca pra otra até juntar materiá pra subir a casa nova e montá a piscina.

— Piscina? Sua casa da fazenda tem piscina?

— Craro! E a água é do rêgo d’água do sítio. Óia a Vardirene, tá até vermeinha!

Fora que tá buchuda. Logo vem ajuda da barriga dela pra cuidar das horta!

— E o pessoal do imposto de renda, seu Izidoro?

Xiii! Deu o maió forfé. Os homi viero e vortaro umas deiz veis. Queria que queria os documento da renda, queria tudo e, como tudo foi ganho na base das permuta eles acabaro ino embora e nunca mais vortaro. O prefeito é meu amigo. A gente fornece hortifruta pra ele na troca de documento e tamém de prano de saúde.

— Caramba, Seu Izidoro, o senhor está de parabéns, conseguiu tudo fazendo troca e mais troca.

— Péra lá, seu moço!! Fique o senhor sabeno que aqui só tem moço homi.

Troca-troca, pra te falá a verdade, é coisa de frozô que quema o toió, e nóis não quema não. Né mêmo, Vardirene?!