MEU PRIMO PAULO MONTEIRO NA COSIPA

MEU PRIMO PAULO MONTEIRO NA COSIPA

Quem conhece o árduo trabalho em obras pesadas entenderá essa história. Em 1979 a empresa em que eu trabalhava assinara o contrato de uma grande obra na Companhia Siderúrgica Paulista, a COSIPA: a construção da Aciaria 2 e Lingotamento Contínuo. Implantada a estrutura com recursos necessários para cumprir a execução dos trabalhos, chegamos a ter cerca de três mil funcionários no canteiro de serviços. Para que esse grande efetivo de colaboradores atue de maneira coordenada no sentido de cumprir um cronograma pré-estabelecido, com eficiência, qualidade, segurança e rapidez há a necessidade de mobilizar um verdadeiro exército de pessoas que atuem no sentido de proporcionar condições para execução da obra. Para isso, em paralelo à execução dos serviços são contratados funcionários dos chamados serviços indiretos. O setor SESMT- Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho é que controla e acompanha a saúde, fiscaliza a correta utilização dos Equipamentos de Segurança Individuais (EPI) e Coletivos (EPC), acompanha os trabalhos e, em caso de serviços ou procedimentos que há a possibilidade de riscos tem poder de interferir e orientar soluções, resumidamente. Na obra acima trabalhavam dois engenheiros e vinte técnicos de segurança do trabalho, dois médicos e dois enfermeiros especializados em saúde do trabalho.

Meu primo Paulo Monteiro, bem mais novo do que eu, solteiro, era supervisor de propaganda e promoções em supermercados. Trabalhava de terno, dirigindo um automóvel, supervisionando os promotores nas lojas e distribuindo materiais de marketing aos mesmos. Era um trabalho que exigia muito com salário baixo, mas agradável por viver em ambientes de shopping e supermercados. Belo dia ao chegar em casa, Paulinho me esperava. Muito orgulhoso, contou que concluíra o curso, mostrou sua credencial de Técnico em Segurança do Trabalho e perguntou da possibilidade de trabalhar comigo. Expliquei que a obra era bem grande, mas eu verificaria se havia vaga, apesar de não ter experiência por ele ser recém-formado. Falei com um dos supervisores do SESMT que se comprometeu a avisar-me quando houvesse uma demissão ou ampliação do quadro do setor. Passado uma semana, o rapaz solicitou encaminhar meu primo a ele, pois um técnico que trabalhava a noite havia se demitido. Levei Paulo no dia seguinte à obra e o apresentei ao Engenheiro de Segurança para admiti-lo conforme combinado. Soube que ele havia começado a trabalhar, que estava tudo certo. Devido ao tamanho da obra e à atividade que eu tinha, não vi mais o Paulinho. Às vezes perguntava por ele ao pessoal do SESMT e me comunicavam estar tudo bem, Paulo aprendia bem e era bom funcionário. Passados uns dois meses, chego em casa e lá estava meu primo. Conversamos, perguntei como estava, qual sua opinião sobre o trabalho. Notei que Paulo ficou constrangido, sem jeito, aos poucos foi falando sobre a obra. Agradeceu muito, mas pretendia pedir demissão no dia seguinte. Surpreendido, perguntei-lhe qual motivo dessa decisão. Mais desconfortável ainda, Paulo Monteiro começou a expor o que o levara a optar por sair da empresa. Ainda vejo seu ar totalmente sem jeito. Disse que local era muito feio e à noite só onde havia serviços tinha iluminação, o pessoal era mau encarado, tinha muito barro na obra. Expliquei que era assim mesmo, as obras são bem diferentes de lojas, escritórios ou supermercados, porém os trabalhadores são homens de bem, o trabalho é duro e não é possível ficar limpo pela própria natureza dos serviços. Pedi a ele que tentasse permanecer mais alguns dias, que era questão de se acostumar. Paulinho argumentou que preferia sua antiga atividade, pois se habituara a trabalhar em supermercados e, mesmo com menor salário, voltaria a trabalhar como supervisor de propaganda. Respeitei sua decisão. Paulinho pediu demissão e passei anos sem vê-lo. Ao reencontrá-lo, disse trabalhar na Petroquímica União e estava muito bem. Feliz por ele, perguntei qual sua profissão. Resposta: -Sou supervisor do Setor de Segurança do Trabalho da Refinaria. Grande abraço, Paulo Monteiro!

Paulo Miorim

14/05/2020

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 14/05/2020
Reeditado em 26/09/2021
Código do texto: T6946875
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