O reflexo de minha alma.

O reflexo de minha alma.

(*) Texto de Carla Rejane da Silva.

Olhando no espelho da minha alma, juro ter visto o reflexo de meu “eu interior” de uma forma diferenciada. Todo ele se abriu como um leque necessário às minhas tristezas e agonias. Talvez, por isso, me senti despida nuamente sem roupas de sentimentos. Em caminhos opostos e tortuosos, pressenti um turbilhão de rugas expostas, refolhos e carquilhos adentrando a minha alma. Tudo, em derredor de mim, se fez, ou melhor, tudo em redor de mim é solidão e tristeza. Somente tristeza e solidão.

Num abrir e fechar de olhos me perco nas batidas do meu próprio silêncio. Um silêncio que, de repente, se vê queimado pelo fogo da intolerância, e não só dela, da insensatez também. Tudo por causa daquelas palavras que me foram ditas assim, sem mais nem menos, sem que eu esperasse. Ou quisesse. Aquela chuva de frases pronunciadas no calor do desespero, na sofreguidão, de um momento cruel e bárbaro, se transformou num momento doloroso que me aniquilou. Enfim, por fim, o fato é que essas ações, chuvas de frases perfuraram com profundidade minha desilusão que, sem saída, se viu às raias da loucura.

Nesse tormento imensurável e abissal, que me transportei, me perdi sem ter como voltar atrás. Acredite a minha vida, aquela vidinha vivida somente para seus costumes minhas ganas e manias, se perderam ao sentir que seus olhos enxergavam apenas meus anos vividos e o tempo transcorrido. Que pena!

Bem sei, não posso mudar o tempo, tampouco os anos. Não posso retrogradar tipo ser jovem de novo, me refazer, me reconstruir, para lhe fazer bem ao seu ego esmaecido. Hoje minhas primaveras são floridas, alastradas de pétalas de rosas e margaridas. Em cada ruga de meu rosto pálido, há uma flor. Uma flor em ascensão. Porém, em queda também. Em cada flor, um amor... Isso somente foi o que me restou: amor, carinho e ingenuidade. Ah, se você aceitasse as minhas doces imperfeições! Sei que nesse mundo, às vezes, com o passar das primaveras, ficamos com os passos mais lentos e os pensamentos desgastados, descoloridos, e claro, menos atrevidos.

Em consequência, o coração entra em dissintonia. Apenas emite um sussurro embrutecido, como se fosse um desatino vulgar. Às vezes parece mavioso. Às vezes não. Tudo embola numa arruaça entorpecida. Sei que as belas flores você cobiça, e o faz com razão. Por isso lhe digo: essas flores possuem os perfumes mais suaves. Com certeza lhe agradarão como merece. Eu, com minhas doces e lindas rugas, apesar dos pesares, as pessoas me dizem ser eu uma pessoa abençoada. Por certo! Cheguei até aqui, sem pisar ou destratar quem quer que seja. Seja uma pequena formiga, seja um leão faminto, um ser carente de amor e afeto. Se você não está focado nessa espécie de meta que lhe apresento, então me deixa seguir em frente. Todavia, lhe peço, doravante, se você ama as belas flores de um jardim florido, aberto em quimeras, guarde para si. Ponha num cantinho oculto bem lá no fundo do seu eu coração, antes que ele se abra em solidão imensuravelmente sem volta.

Não precisa se fazer faceiro falando para o mundo ao seu redor que não gosta das rugas encontradas em meio a um vendaval de pequenos caprichos. Onde somente você vai encontrar sinceridade, e muito gostar. Um gostar intenso, sentido e profundo. Feliz eu digo, perco meu brilho, mas não quero ser para você, uma em muitas que você brincou e desprezou. Posso não ser jovem, bela, formosa, saltitante, mas meu coração é frágil. Débil, raquítico, tênue, inválido e adinâmico. Como uma folha solta, sem rumo, perdido em meio ao vento...

Carlasonhadora
Enviado por Carlasonhadora em 15/05/2020
Código do texto: T6948514
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