O cloroquino.

O cloroquino.

Não sou de alterar os nomes das coisas ou de animais. Sempre fui de respeitar as identidades, mas foi a primeira vez que o cãozinho da minha irmã rosnou feio prá mim: eu o havia chamado de cloroquino porque ele está um tanto teimoso, começando a reclamar, a não obedecer. Nem sei a razão disso: foi eu quem o alimentou numa situação delicada, em que estava hospedado numa outra casa. Enfim... o duque virou cloroquino de tão enjoado que está.

Em se tratando desse nome, sendo o feminino exposto como salvação (rsrsrsrs) da Covid 19, optei por divulgar (o mineiro diria “esparramar”) um texto infelizmente apropriado para o momento. Momento em que o capitão corona gosta de se mostrar com as caixinhas na mão, defronte aos holofotes.

Publicado no Diário do Centro do Mundo,hoje, dia 16 de maio de 2020, assinado por Tchelo, lá vai:

Morte por cloroquina é boa para Bolsonaro: não entra na estatística do coronavírus.

Bolsonaro vende cloroquina

Bolsonaro não está nem aí para o povo brasileiro. Ele só se preocupa com ele mesmo, com sua própria família e com sua reeleição.

Até aí, nenhuma novidade para quem vê o óbvio.

Ontem, ao provocar o pedido de demissão do Ministro da Saúde Nelson Teich, pudemos assistir como o presidente consegue atuar, numa cajadada só, nessas três frentes:

1. O indivíduo Bolsonaro não ouve ninguém. Se considera o arauto da razão. Dono da verdade que libertará só a ele mesmo. Entrega ao STF exames com codinomes, talquei? Instala um governo fascista, em que ou se faz o que ele quer, ou não lhe serve. Assim quer acabar com o distanciamento social horizontal. No grito.

2. O pai Bolsonaro quer proteger os seus. Tira o foco da reunião ministerial que mostra a chulice de seu governo e seu desejo maquiavélico de controlar a PF (vulgo Polícia Federal) e proteger seus filhos e amigos. Perto dele, Vito Corleone é fichinha.

Tem mais.

Esse terceiro tiro ajuda tanto na sua megalomania quanto na sua intenção de tirar a atenção das ilegalidades que rondam ele e sua família. O presidente traz de volta a velha e boa discussão sobre a liberação geral da cloroquina (e que coincidência… o laboratório químico do exército produziu milhões de comprimidos da droga e agora precisa de demanda ou terá prejuízos milionários).

3. Usa a cloroquina como um remédio milagroso que acaba com a ameaça do vírus mesmo não existindo base científica para isso, e mesmo havendo riscos comprovados de efeitos colaterais perigosos que levam frequentemente à morte. Como aconteceu com o jornalista Renan Antunes de Oliveira.

Liberar a droga agrada seus apoiadores e dá a impressão de que o presidente se preocupa de verdade em combater a pandemia.

Pobre daquele que acha que Bolsonaro cuida do povo brasileiro ao dar acesso à cloroquina para qualquer cidadão com sintomas leves.

Com a liberação do medicamento, brasileiros vão morrer, por exemplo, de ataque cardíaco, antes mesmo de serem diagnosticados com a covid-19.

Na lógica bolsonarista, egoísta, familiar e eleitoral: e daí?

A cloroquina funciona para os seus próprios objetivos sórdidos: com pessoas morrendo em casa e com atestado de óbito por parada cardíaca, antes de testarem positivo para a Covid, diminuem-se as internações, alivia-se o sistema de saúde e reduzem-se os casos oficias.

O gráfico altera. O fim do isolamento parece seguro.

Para o presidente, a salvação.

Mas e para você?

Na real. Bolsonaro não está nem aí para você. Não está nem aí se você morrer.

Desde que não seja do novo vírus corona.

Alguma dúvida?

Vera Moratta e Tchelo
Enviado por Vera Moratta em 16/05/2020
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