Sonhos de herói

Reunidos à mesa para jantar, Rafa, Rogério e eu começamos a conversar. Falávamos sobre o sonho que tivéramos na noite anterior, sobre finanças, etc. De tudo isso, nosso pequeno filho, Rafael (05 anos), participava. Tentava completar o pensamento do pai, falou que não havia sonhado, etc. Fiquei muito orgulhosa de vê-lo participando da conversa. Lembrei dos antigos que achavam um absurdo uma criança intrometer-se em conversa de adultos. Se um filho fizesse isso, no mínimo receberia um olhar atravessado, caso os pais fossem mais benevolentes. Caso contrário, era certo receber um bofete na boca.

De repente, Rafael puxou o assunto do coronavírus e paramos para ouvi-lo. Ele falou ao pai que já havia visto o vírus, que eu mostrara a ele em uma história em meu celular. E era verdade! Ele vivia dizendo que queria ver o coronavírus, queria lutar contra ele. E, nós, em resposta, dizíamos que não dava para vê-lo, exceto por microscópio. E ele retrucava que dava sim, com a imaginação. Um dia, recebi um e-book infantil, bastante ilustrativo, com orientações sobre os cuidados com o novo vírus. Nele, havia uma imagem do microrganismo, com uma cara de mau. Então, li o livreto para meu filho, mostrando-lhe todas as ilustrações. Quando ele viu o coronavírus, ficou decepcionado: “Ah, é esse o coronavírus?” Creio que havia imaginado um vilão mais aterrorizador, pois já havia visto vilões piores em seus desenhos animados! Pediu para olhar várias vezes a imagem, como que não acreditando que aquele personagem fosse tão perigoso.

Mas, voltando à nossa conversa à mesa, Rafael falou ao pai que ele e as amigas (que, na imaginação dele, formam uma liga de super-heróis!) iriam derrotar o coronavírus, pois ninguém pode contra eles, só um simbionte, porque ele entra no corpo das pessoas. Para quem não sabe, simbiontes são aqueles alienígenas que entram no corpo das pessoas, como o Venom, o Carnificina, Anti-Venom, Toxina, aqueles personagens da Marvel que as crianças gostam e os pais precisam conhecer para poderem dialogar com elas.

Pensei em dizer a ele que o coronavírus também entra no corpo das pessoas. Mas achei melhor não frustrar seus sonhos de herói.

Em: 16.05.2020

Adriane dos Santos
Enviado por Adriane dos Santos em 17/05/2020
Reeditado em 14/09/2022
Código do texto: T6950476
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