DESABAFO

Respeito muito quem tem maiores temores relativamente à pandemia do COVID-19. Sim, é coisa séria e, cada um, inclusive em proteção aos filhos pequenos, tem comportamentos mais ou menos rigorosos. De minha parte, ainda que me cuide e procure seguir os protocolos, honestamente temo pouco e sou relativamente otimista. Há mais de dois meses não vejo os netinhos gêmeos do filho. Isto, sim, me preocupa, mas tenho de respeitar e manter todos os cuidados. Se eu fosse efetivamente zeloso, não tomaria três latões de cerveja ao meio-dia, uma garrafa e ¼ de vinho tinto cabernet sauvignon – Santa Helena, chileno – à noite e não fumaria mais de três carteiras de cigarro por dia (LUXOR). Sou, eu sim, espécie de Corona Vírus para os mais fanáticos: sei que faz mal, há 50 anos me dizem isto. Mas, em vários exames médicos recentes, não foram assinalados reparos relevantes. Meu mau exemplo serviu para que meus filhos fossem sempre muito cuidadosos. Não vou mudar, definitivamente. Portanto, seria ilógico deixar de fazer isto ou aquilo, socialmente aceitável, por medo ao Corona. Mas, como já disse, não dou sopa para o azar. Quem me vê, assim por alto, pensa mesmo que sou um indivíduo normal. Enfim, por ora, “la nave va”. Bem, não quero debater a pandemia aqui em Porto Alegre, já escrevi bastante a respeito. O que me dói profundamente é a circunstância de passar por tão conturbado momento quase aos 74 anos. São meses importantes de uma etapa de vida que não será jamais recuperada. O tempo não pára. Até 50, 60 anos, pode-se dizer, em teoria, que o futuro poderá compensar. Não no meu caso, visto que meu futuro é o agora. Sei lá como estarei dentro de dois ou três anos, quando tudo se normalizar plenamente. Viagens, grandes confraternizações familiares em belas paragens, sem estresse? Naturalmente que estou levando também em conta o fator econômico, que ainda não mostrou sua cara mais horrenda, sem querer ser apocalíptico. Claro que as coisas irão se ajeitar, mas de um jeito diferente, de mais fácil absorção pelos mais jovens, no aspecto existencial. No plano material e fático, sempre dá para adaptar-se e tocar o barco, mas o tempo perdido, no quesito relações humanas, não há Cristo que compense os mais veteranos. Sou do Grupo de Risco apenas neste plano, aliás, o mais dramático. Lamento demais a “suspensão” da vida afetiva e não vislumbro solução. Afinal, a pandemia já pegou realmente todo mundo, de um jeito ou de outro. Mais uma taça de vinho.