ELE QUERIA ME MANDAR GERÂNIOS

Havia lançado a primeira edição de Pássaro Sem Asas. Entre as muitas demonstrações de carinho, estampadas das mais variadas maneiras, um telefonema ao meu local de trabalho, de cuja identidade não sei precisar, mas gostaria muito, dizia o seguinte:

— O seu livro é maravilhoso! É uma lição de vida! Não poderia terminar de lê-lo sem ouvir a sua voz! Ele é um testamento público! Gostaria de mandar-lhe gerânios. Onde posso encontrar gerânios? — disse a voz, firme e muito agradável.

— Sinto-me muito cativada pelo carinho. Gosto de todas as flores. Se o senhor sentiu vontade de mandar-me flores, faça de conta que as recebi, pois o desejo de amar já é amor — expliquei.

A voz insistia em mandar-me gerânios. Finalmente encerrou o seu discurso dizendo que eu era uma flor.

Emocionada com o que ouvira, senti vontade de poetar. Como a última pessoa intimada para aquele dia havia sido atendida, pus-me no trabalho, dei vazão ao que dizia o coração:

APENAS UMA FLOR

Sou uma flor

diferente:

sem adubo

nem canteiro.

Mas

chamaram-me de flor!

E eu quero ser flor,

embora haja tristeza,

desenganos...

Uma flor de paz,

sempre de amor, vermelha.

Flor,

unicamente flor.

Sem primavera

nem inverno.

Flor no desalento,

flor nas madrugadas,

no frio,

no tempo,

nas lágrimas

e nas tormentas.

Flor-rosa,

de espinhos agudos.

Flor-mulher,

esperança cansada,

direito negado,

liberdade tomada.

Mas

amavelmente

ou gentilmente,

chamaram-me de flor.

E eu sou uma flor!

Nada mais.

Fico feliz,

por ser ainda,

apenas uma flor.

Genaura Tormin
Enviado por Genaura Tormin em 10/11/2005
Reeditado em 10/11/2005
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