A Traça Esportista que Mudou meu Dia

Querido Diário,

Não tenho muito a dizer, visto que nada tenho pra fazer. Mas sinto que preciso escrever, mesmo que o meu escrever seja sobre algo absurdo, tal como o dia que fiquei por alguns minutos observando uma traça subir pelas paredes. Sim, isso mesmo que você acabou de ler.

Eu confesso a vocês que ver uma traça praticando alpinismo na parede do meu quarto foi algo fantástico. O ambiente antes tão monótono, limitado, plano e minimalista, transformou-se ao colidir com a minha imaginação, que promoveu um acidente geográfico suficiente para gerar uma cadeia de montanhas, de variadas formas e tamanhos, no espaço reduzido do meu aposento. Ali me imaginei como um pequeno pontinho ante a grandiosidade de uma traça alpinista que estava a poucos metros do cume de uma gigantesca montanha, popularmente conhecida como parede de concreto, recoberta não propositavelmente por uma tinta branco neve, ou melhor, neve.

O lençol florido da minha cama em consonância com meu pijama de algodão, fez-me sentir como se eu estivesse deitado na grama, próximo a um campo de tulipas e uma fazenda de algodões. A traça subia, enquanto a lâmpada, feito a luz do sol, irradiava sobre a minha face arredia. Ela parecia não ter pressa; escalava no seu tempo. Uma hora colocava a cabeça para fora, n'outra se escondia. E assim ela subia e subia.

Minutos ou horas depois - se de sanidade mental já careço, que dirá noção do tempo -, ela chegou ao cume e ficou ali dependurada, balançando feito o Tarzan. Ao que parece, não era só uma traça alpinista, mas também atletista. Muito boa por sinal. O resto não lembro muito bem, pois ela caiu e eu pulei da cama, para evitar que ela caísse sobre mim. Mas olha que traça danada! A bicha além de alpinista e atletista, ainda é ginasta olímpica em saltos ornamentais.