PERSONAGENS DE OBRA: NAGIR E ZEZINHO

PERSONAGENS DE OBRA: NAGIR E ZEZINHO

Lembranças do entusiasmo com que iniciei minha vida profissional e conservo intacto até hoje. Devido ao solo de nossa querida Baixada Santista e o progresso de nossa região, a Mecânica dos Solos no Brasil começou aqui para viabilizar estradas, ponte, obras portuárias, etc. Até hoje executar grandes obras em Santos e região requer muito estudos e sondagens, envolve muitos equipamentos, materiais e uma logística sofisticada. Aprendi a duras penas isso. Em meu primeiro emprego, designaram que eu ficaria responsável por duas frentes de serviço no setor de Laminação da Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), hoje Usiminas Cubatão: Extensão do Edifício de Tiras a Quente e Extensão do Edifício de Tesouras a Frio. Para quem não conhece usina siderúrgica, basicamente ferro gusa é fabricado no Alto Forno e transformado em aço na Aciaria que por sua vez é transformado em grandes lingotes que são transportados aos fornos de recozimento e laminados na Laminação até obter-se extensas tiras que se transformam em bobinas. Esse processo é feito a altas temperaturas daí o nome Tiras a Quente. Após resfriado, parte é vendido em bobinas e parte em chapas que se obtém por cortes a frio no Setor de Tesouras a Frio. Basicamente, o processo é esse. Quando chamamos de Edifícios, na realidade são imensos galpões com trinta metros de altura (pé direito), grande extensão e largura de trinta metros ou mais. Para sustentar as grandes cargas advindas da operação dos equipamentos e produtos pesadíssimos, são necessárias fundação pesada profunda onde se apoiam lajes chamadas de radier e grandes bases de concreto que por sua vez sustentarão enormes estruturas metálicas. Tudo isso é aterrado, então executa-se pesado piso em concreto após grandes bases de equipamentos como laminadores, pontes rolantes, etc. Salvo minha ignorância no assunto, esses são os trabalhos que devem ser executados até obter-se condições de montagem e testes dos equipamentos que fabricarão o aço. Mas voltemos às minhas obras. No Tiras a Quente, o encarregado era o Zezinho. Baiano, baixinho e competente. Trabalhávamos com martelos pesados para cravação das estacas metálicas preferencialmente fabricados pela Delmag, indústria alemã. O modelo maior que tínhamos era o D-30, mas contávamos com modelos D-22 e D-12, esses números referem-se à carga em toneladas que o equipamento transfere à estaca (energia de cravação). Como o D-30 estava em manutenção os modelos menores eram usados. Zezinho logo foi falando:” -Martelo bom é o D-30. Com ele a estaca crava ou diz porque não crava.” Ou: -Com o D-30 o filho chora e a mãe não vê!”. Passados os primeiros perrengues eu e Zezinho fizemos uma boa dupla e concluímos a obra dentro do prazo. O mestre de obras do Tesouras a Frio era o Nagir, carioca de Nova Friburgo, muito experiente. Nagir era pai de oito ou nove filhos e visitava a família cada dois meses. Entendia muito dos trabalhos e quando levava bronca tratava de corrigir o que estava errado. Lembro do Nagir com muito apreço. Era homem de confiança do chefe da obra, o Feliciano, com trabalhava há anos. Quando visitava minha obra, o Feliciano brigava muito com Nagir e falava que não ia mais para casa, pois cada vez que viajava fazia um filho. Era engraçado pois ambos eram amigos e o clima era de pura gozação. Anos depois, Nagir foi trabalhar na Cosipa, onde se aposentou. Guardo boas recordações dessa época, que foi de grande aprendizado para meu desenvolvimento profissional. Onde estiverem esses dois mestres de obras, minha eterna gratidão.

Paulo Miorim 21/05/2020

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 21/05/2020
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