Onde está o norte?

Posso ir aonde quiser, mas não vou. Posso ser o que quiser, mas não sou. Algo me incomoda, é como se meu ir ainda não tivesse ido. É como se o meu ir tivesse sido até então o ir de outro alguém ou de um eu que não sou eu, um falso eu. Aquela porta que não foi aberta, aquele ir além que não fui, aquele medo que impediu de abrir a porta e ir além das fórmulas prontas, do script pronto, do previsível que acaba por retornar maçante. Um enorme esforço para dizer que está tudo bem, que é assim mesmo. Um grande esforço para ser bom. Ser bom? É como se o no último momento tivesse desistido de mergulhar, recuei para ser bom (?), correto (?), responsável (?). E não poderia ser bom, correto e responsável me largando no fluxo da vida, confiando no acaso? O medo aprisiona, cega, imobiliza. Permitir que emerja o que está guardado há tanto tempo, desde sempre, desde antes. Talvez não haja necessidade de um norte, mas sim de um ir consciente de ser cada passo um momento de honestidade comigo. A ética virá por acréscimo ciente que o bom é bom quando não violenta o próximo. O próximo entra depois da honestidade comigo, não antes. Esse é o ponto. Não há ética se não tenho honestidade comigo. Não há norte se não estamos a caminho de algum lugar. O norte é algo relativo que me ajuda, quem sabe a saber que estou indo para sul, não importa. Importa minha honestidade comigo, minha ética no coletivo. Não importa se vou chegar, importa como caminho. Por isso não importa o norte.