ATRIZ ANTÔNIA MARZULLO 1

ATRIZ ANTÔNIA MARZULLO

[NASCE UMA ESTRELA PARA ILUMINAR NOSSAS VIDAS]

Nelson Marzullo Tangerini

Segunda filha de Manuel Gomes Soares, português, natural de Viseu, e D. Rufina de Oliveira Soares, brasileira, Antônia de Oliveira Soares [Antônia Marzullo, após casar-se, em 1911, com o italiano Emílio Marzullo], nasceu a 13 de junho de 1894, na Rua da Floresta, hoje Rua Gomes Lopes, no Morro dos Prazeres, bairro de Santa Teresa, próximo ao Rio Comprido, na cidade do Rio de Janeiro, até então, capital da República.

A irmã mais velha, Eustachia, também chamada de Intá, não seguiu a carreira artística, embora, em alguns momentos, venhamos a falar sobre ela.

Eustachia e Antônia estudavam num Colégio de Irmãs em Laranjeiras, onde aprenderam francês. Em momentos difíceis para Antônia, a atriz lecionava a língua de Victor Hugo para sustentar os filhos.

Minha mãe e meus tios contavam que as irmãs faziam o romântico trajeto de casa para a escola, e, da escola para casa, a pé, por dentro da Floresta da Tijuca. No meio do caminho, talvez, colhessem flores, frutos silvestres, avistassem pássaros e trocassem confidências de meninas. O que pensavam as ingênuas meninas.

Eram seus avós [paternos] Manuel Gomes Soares e D. Rosa Gomes de Oliveira Soares, portugueses, e [maternos] Cândido Cassiano de Oliveira Neves e D. Adelaide da Conceição Siqueira, brasileiros.

A avó materna, porém, já era falecida, quando a neta veio ao mundo. Contava-nos Antônia que D. Adelaide falecera após uma grave crise renal, hoje, talvez, seria diagnosticada como crise hipertensiva. A família ainda guarda uma foto - gasta pelo tempo - de D. Adelaide, acompanhada de seu filho mais velho, Pompeu, irmão de Rufina e, portanto, tio de Eustachia e Antônia.

É surpreendente a semelhança de Antônia com a avó – tanto pela aparência física, quanto pela elegância.

Quanto ao Pompeu, contavam-nos Maurício, Dinah e Dinorah Marzullo, filhos de Antônia, que o tio era um senhor muito alto, muito claro, de cabelos loiros, olhos azuis.e muito elegante. “Vinha sempre nos visitar, era muito ligado à família” ,contava-nos Dinah.

De Rufina, pouco se sabe. Embora amigos ligados à família tenham dito que era afrodescendente. Seria por isto que suas fotos sumiram? A amante de seu marido teria dado sumiço em suas fotos? Sabemos apenas que Antônia ficou órfã de sua mãe aos 9 anos, por causa de uma longa enfermidade – uma ferida em uma das pernas e que jamais cicatrizou – ferida esta, causada pelo uso de botas de cano longo, segundo a família.

Seu marido, Manuel, segundo Antônia, jamais teve paciência com a esposa e companheira. Limpava e lavava o chão do quarto de Rufina em sua presença, jogava baldes de água e sabão em baixo de sua cama, sem a menor compaixão. Na sua ignorância, imaginava, talvez, que fosse uma doença contagiosa. Não lhe passava pela cabeça pouco arejada que a jovem esposa pudesse ser diabética.

E, enquanto a esposa lentamente se despedia deste mundo, o português mantinha um relacionamento com Cristina, uma bela jovem ambiciosa, com quem se casaria, logo após a morte de Rufina.

Após a morte de Manuel, analfabeto, que apenas assinava seu nome, Cristina, que já tinha um filho, Nelson, fruto de uma aventura amorosa, ficaria com a casa e chácara do Morro dos Prazeres, o armazém e suas propriedades [quintas] em Portugal e compraria, logo depois, um consultório para o enteado de Manuel, Dr. Nelson, futuro dentista,, no Grajaú. Sua habilidade e esperteza eram tantas, que Antônia e Eustáchia jamais viram um tostão da herança.

Vovô Soares, quitandeiro na Rua da Estrela, no Rio Comprido, assinara um testamento, deixando todas as suas propriedades para a segunda esposa,

É possível que seu suicídio – enforcou-se – seja fruto da decepção que teve com Cristina, que deixou Manuel e as filhas Eustáchia e Antônia sem nada.

Trataremos deste assunto mais adiante, mas deixando, aqui, um belíssimo soneto de Maurício Marzullo, poeta, seu neto, que estava em Fortaleza, capital do Ceará, a trabalho. Ao saber da morte do avô materno, por telegrama, escreve, a 12 de agosto de 1942, com rara sensibilidade, Maurício define o que sentia pelo querido avô:

“VOVÔ

A Manuel Gomes Soares, meu avô materno

Inda não sei por que te foste embora,

deixando a nossa casa abandonada,

a mesma casa, onde a tristeza mora,

dês quando entrou a dor de cambulhada.

Subiste aos céus numa tristonha hora,

em que nossa família, dispersada,

a lastimar-se, enternecida, chora

a grande perda para nós causada.

Lutando pelo pão de cada dia,

pois não se vive, eu sei, da caridade,

equidistantes, cada qual porfia.

Talvez, não suportando a ansiedade,

imerso numa grande nostalgia,

morreste, Vovozinho, de saudade!... “

Este fragmento faz parte da Biografia de atriz Antônia Marzullo, que vem sendo reescrita por mim, seu neto.

A primeira versão deste livro foi registrada na Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, RJ, em 2000.

NMT.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 26/05/2020
Reeditado em 27/05/2020
Código do texto: T6958676
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