Ontem no Trem - Ser mãe...
Embarco e consigo sentar (ganhei meu dia!).
Ao meu lado uma mulher aparentando 30 a 40 anos, bonita, bem vestida falava ao telefone.
Pois bem, na altura da Estação de Senador Camará entrou um grupo de meninas aparentando ter não mais de 15 anos (pra falar a verdade muito menos). Todas vestidas com roupas sumárias, lindas e muito magrinhas ( impressionante os cambitinhos das meninas!). Ao entrar, uma delas, tropeçou e quase caiu no vão entre o trem e a plataforma. Se ela caísse com certeza iria passar direto de tão magrinha!!! Gelei! Espírito materno fala alto...poderia ser a minha Júlinha( Rsrs...a filha que não tenho!!!).
Graças a Deus não aconteceu o pior. A menina conseguiu se equilibrar e entrou mediante gargalhadas e zoação das amigas( Típico da idade, tudo é brincadeira !).
Mediante este fato o papo começou a fluir com a minha bonita companheira de banco.
Eu comentei o meu desespero com o possível acidente e indaguei onde estas meninas iriam a esta hora e se não deveria estar na escola...Tipo papo de adulta "sabe tudo"...Minha indagação era endossada pelos papos das meninas no vagão, mistura de promiscuidade, ingenuidade e muita imaturidade.
A mulher bonita respondeu que as vezes elas estavam ali e os pais nem sabiam. Daí começou desenrolar o papo sobre o papel dos pais, respeito, limite, medo, disciplina, punição e violência. Começamos a contar " causos" de família e o papo fluiu. Rolou simpatia e a moça bonita começou a dizer que tinha uma filha de 16 anos e eu disse que o meu tinha 6 anos e que às vezes não sabia se estava fazendo a coisa certa porque eles não vem com manual. Além de serem peças únicas!
Para o filho dos outros sempre temos uma opinião , uma crítica, um palpite e uma solução! Para os nossos...( Só Jesus!!rsrs)
Aí, em um dado momento, ela contou que tinha uma única filha e que esta não morava com ela. Olhei para ela e pude perceber algo diferente no relato.
Ela disse: " Hoje posso dizer que somos grandes amigas e ela me admira muito. Mas foi muito difícil chegar até aqui. Ela foi muito planejada. Ela nasceu depois de 10 anos de casamento. Primeiro nos equilibramos Financeiramente e depois fomos pais. Mas meu casamento não deu certo. Fiquei com a guarda dela ( na época não era compartilhada). Minha vida virou de cabeça para baixo. Comecei do zero a conquistar meu espaço. Estava ajeitando tudo para minha mãe vir morar conosco e tudo ia bem... Até que minha filha, num domingo a noite, depois de vir da casa do pai, virou para mim e disse que queria morar com ele, pois queria acompanhar o nascimento da irmãzinha e que inclusive iria ser madrinha da bebê.
Meu mundo caiu! Como se alguém tivesse dado várias punhaladas em mim! Mantive aparentemente a calma e falei que precisaria conversar mais sobre o assunto e com o pai dela.
Ela tinha na época 10 anos! Para piorar, nesta mesma semana minha mãe, minha companheira, veio a falecer! Me vi sozinha! Muitas dúvidas! Onde foi que errei?! Não consegui dar um lar para minha filha? Sou tão ruim assim?A mãe não sabe sempre o que é certo e melhor pro filho?! Busquei muito a Deus para uma saída. Todos davam palpites. Então conversei com o pai dela e resolvi permitir que minha filhinha fosse morar com ele.
Recebi várias críticas, principalmente de minha família, dizendo que ela não tinha idade ainda de escolher, que eu deveria me impor e proibir. Não concordo, mesmo sendo minha filha, não queria ninguém infeliz ao meu lado, só por autoridade maternal ou para satisfazer a sociedade! Meu marido é um bom homem e sempre foi um ótimo pai. Além da nova companheira dele na época ser uma pessoa boa e madura. Mas doeu muito...muito...muito...Muito vazio, muita Impotência. Atenta para que a qualquer sinal de insatisfação de minha filha eu estivesse ali para ampara-la.
Hoje passaram-se 6 anos. Tudo entrou nos eixos, minha filha está feliz e eu restruturei minha vida. Pode-se dizer que minha filha tem duas famílias. Agradeço muito a atual esposa do meu marido por nos ajudar a educa-la.
Inclusive minha filha me disse um dia desse que as amigas dela me admiravam por ter tido a postura que tive na época quando não escolheu morar comigo. E ela ficava sentida por ter causado tanto sofrimento. Na verdade não foi fácil mesmo, mas graças a Deus tomei a atitude certa, não fui egoísta , respeitei sua vontade e hoje tenho uma grande filha e agradeço a todos que participaram desta Educação! As minhas portas estão sempre abertas! Um dia ela disse que iria voltar e eu respondi que ela nunca tinha ido. "
Gente, fiquei tão admirada por esta mulher por tamanho e elevado altruísmo e amor maternal que falei para ela que iria escrever sua história!
Não...não temos receita para criarmos nossos rebentos...mas a cada dia mais me convenço que o respeito e o amor é a base de tudo! E este amor está em constante transformação para poder entender melhor nossos filhos.
" Tão sublime quanto incondicional é o amor de mãe, que nos molda e quando não, nos aceita." - Elaine Sekimura
Beijo no coração!