São Paulo, meu amor...Outono
O outono não convidado chuvoso e carrancudo, invadiu meu apartamento, minha mente e minha vida, deixa nuvens cinzas nos quartos, uma luz tímida na cozinha e no banheiro, e um peso das saudades do verão em minha cabeça, frios os meus pés, mãos, cabeça.Me intranqüiliza na novidade que é e sinto, um outono diferente, que as águas de março neste agosto inauguram-se todos os dias deixando para traz o verão que fecharam com o canto de Jobim. Abro as janelas de minha sala semi-escura para
entrar toda a luz de um sol acanhado que se esconde tímido por traz das nuvens cinzentas. Nos breves intervalos de estio, minha família de sabias me brinda com seu talento canoro e me faz lembrar, verões e primaveras, tenho que me acostumar a este outono jamais vivido, como jamais vividos são todos os dias, uma chuva lenta elegante e fina, acinzentando ainda mais minha cidade cinzenta dando-lhe ares Europeus nunca vistos nos verões e primaveras, vejo os prédios manchando-se da água mansa da chuva, formando sombras nos parapeitos e janelas, nas ruas o asfalto refletindo como um espelho o vulto rápido dos carros, me reconforto pensando nos benefícios do tempo, na necessidade das águas, nas plantas, na terra, na vida. Pego meu casaco, meu guarda chuva e vou me molhar neste agosto agonizante, e lavar com a chuva deste inverno o meu outono sonolento.Que meu abraço encontre o seu sorriso.José Carlos