Amigo de Verdade

Na vida é sempre assim: todos passamos por bons e maus momentos. É como aqueles gráficos matemáticos que apresentam variações para cima ou para baixo. Conforta-nos muito, principalmente nas situações de baixa, ter amigos por perto. São eles que estão sempre dispostos a nos ouvir, a sentir conosco o que estamos passando, a nos encorajar para sairmos daquela situação e às vezes até para não nos dizer nada, ficando apenas próximos. Há momentos em que uma palavra significa muita coisa, mas em outras situações, um abraço silencioso é o melhor presente que poderíamos receber. E só os amigos são capazes de perceber o que é melhor em cada situação, identificando a hora de falar, ou mesmo de calar.

Os bons amigos também são capazes de dizer coisas que nem sempre queremos escutar, mas que são importantes serem ditas. Eles são cúmplices, mas não são omissos. Os bons amigos são incondicionais, eles nos amam apesar dos pecados que cometemos, reconhecendo as nossas falhas como seres humanos. Mas eles são também absolutamente leais. Não são coniventes, pois essa não é uma característica de ser amigo. Mas também não medem esforços para que a injustiça não caia sobre o amigo.

A bíblia apresenta muitos casos de amizades edificantes. Uma delas, particularmente, me fascina. Vem de lá do antigo testamento e é encontrada no segundo livro de Samuel. Refere-se ao rei Davi no momento de sua peleja com o próprio filho, Absalão, que resolveu usurpar o seu trono. Diz o livro dos livros que, em meio à fuga para evitar o confronto com o filho, Davi levara consigo apenas um pequeno grupo de oficiais leais, sem ter feito nenhuma preparação para a saída, e nem levado provisões. A grande surpresa para Davi acontece quando ele olha para trás e vê um exército de 600 homens marchando em sua direção. Esses homens eram geteus, assim chamados os nascidos na cidade filistéia de Gate, terra natal do gigante Golias, do conhecido duelo com Davi, que com uma rústica funda acabou derrotando-o. Com a morte de Golias todo o povo geteu passa a ser escravo dos israelitas. E é esse povo escravo, comandado por um homem chamado Itaí, que vem lhe oferecer proteção. Nesse contexto se dá o belo diálogo entre Davi e Itaí, iniciando com a pergunta do rei em fuga: “- Por que irias também tu conosco? Volta e fica-te com quem vier a ser rei, porque és estrangeiro e desterrado de tua pátria. Chegaste ontem, e já te levaria eu, hoje, conosco a vaguear, quando eu mesmo não sei para onde vou? Volta, pois, e faze voltar a teus irmãos contigo. E contigo sejam misericórdia e fidelidade.” Respondeu, porém, Itaí ao rei: “- Tão certo como vive o Senhor, e como vive o rei, meu senhor, no lugar em que estiver o rei, meu senhor, seja para morte seja para vida, lá estará também o teu servo.

Amigo é assim. Por mais difícil que seja a situação, não há argumento que faça um abandonar o outro. Arrisco-me a dizer que nunca, em nenhuma situação, um amigo abandona ou desaponta o outro. Caso isso aconteça, pode estar certo, amigo de verdade mesmo, essa pessoa não era.

Fleal
Enviado por Fleal em 03/06/2020
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