Desabafo Isolado IV

Nasci em plena Ditadura Militar, embora alguns chamem tal Regime de invenção. Minha filha nasceu no ano da reabertura política: 1985, no Governo Sarney, consagrado presidente após a morte emblemática de Tancredo Neves, o eleito. Tancredo não chegou a assumir, mas a faixa, mesmo assim, foi passada ao vice em meio à comoção popular.

De 1990 a 1992 tivemos o “Caçador de Marajás”, Collor de Mello, que disputou com Lula e se elegeu por conta da “fina estampa”. Tia Eva, que Deus a tenha, votou nele pela beleza. Collor, no entanto, era um embuste e saiu por impeachment, voltando à cena depois.

Em 1993 nasceu meu filho. Já estávamos com Itamar Franco, época do Plano Real. Fernando Henrique, Lula e Dilma vieram na sequência. Em 2016, dois anos após o nascimento da minha primeira neta, as “pedaladas fiscais” motivaram o impedimento da presidente num golpe que levou Michel Temer (em 2017 nasceu minha segunda neta) ao cargo até janeiro de 2019. Daí, até o momento, tem-se instaurado o Bolsonarismo.

Como exposto, somos todos seres políticos. A política é colocada em nossas vidas de uma maneira ou de outra. Não tem como negar isso. Agora, aceitar os políticos como representantes da nossa vontade ou, tecnicamente, da vontade do povo é outra história. Entretanto, somos obrigados a conviver, queiramos ou não, com governos autoritários e/ou democráticos.

No momento, estamos numa “Terra em transe”. E, confesso, tem sido algo difícil de engolir. Chego a ter saudade de Temer, nosso “vampiro”. Eu que pensava que não poderia haver nada pior. Estava enganada. Podia e já estava nos bastidores. Sorrateiro, esculhambando as pessoas por conta da orientação sexual, xingando, desrespeitando mulheres, exaltando a Ditadura.

Agora, quando as mortes pela pandemia passam de 310 mil no mundo e quase 16 mil em nossa “pátria mãe gentil”, em lugar do “salve, salve, Brasil”, começa o coro do desespero: “Vem Mourão, vem Mourão”, bora voltar aos tempos de chumbo, mas livra-nos de, todos os dias, ter um homem à frente da Alvorada a proferir asneiras, estatísticas que não batem, discursos desconexos.

Enfim, destilando o ódio que já demonstrava ter nas veias ao ser expulso do Exército, em 1987/88, por atos de deslealdade e desrespeito à hierarquia. Assumidos e depois negados, como tem sido sua praxe na vida. Nesse momento, as Forças Armadas se transmutariam numa necessária - e urgente - camisa de força para o destrambelhado capitão da reserva. (16 de Maio de 2020).

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 06/06/2020
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