Desabafo Isolado V

Durante esse isolamento, estou tentando manter, um diálogo comigo mesma, sem impor nada a ninguém. Tratam-se, tais escritos, de desabafos, baseados em opinião formada, própria. Até porque, a essa altura da vida, mesmo com máscaras que mais parecem mordaças, nunca tive a intenção de forçar ninguém a nada.

Claro, talvez eu esteja sentindo o mesmo que boa parte das pessoas, mas isso não me alça à dona da verdade. Começo a achar que meus relatos são, quase sempre, retratos de um desespero generalizado. Contudo, ouvir de pessoas com as quais convivi e até trabalhei nos tempos de jornal, que é melhor ter na presidência um destemperado do que alguém travestido de “paz e amor” me dói nos nervos. Devo ser meio hippie, só pode.

Vi um vídeo recente de uma apoiadora dos desmandos. Lá estava a mulher, bandeira em punho, sozinha, numa sinaleira de Brasília, declarando guerra aos “comunistas” que querem destruir o país. Ela sabe o significado de Comunismo? Quem são esses destruidores? Seria a repórter atingida por uma bandeirada intencional, domingo, antes da aglomeração “pró-governo”?

Em plena pandemia, lá estavam o presidente, 11 ministros, crianças, o filho dele – não sei a numeração – e um grupo exaltado de seguidores, antecipadamente orientado a guardar faixas antidemocráticas para não estragar os conchavos da desejada reeleição.

Gente, são mais de 16 mil mortes oficiais no Brasil. No mundo, são 316 mil. Ou seja, temos uma multidão de mortos e ainda nem sabemos quantas covas serão necessárias até isso abrandar no planeta. E aqui, nessa terra plana, estão os políticos fazendo campanha e os fanáticos rendendo homenagens e disparando agressões.

Para o restante do mundo, estamos posando de que mesmo? Robôs à semelhança dos que disparam fake News? Mini projetos de Cloroquina do Capitão paraquedista? Idiotas? Zumbis? Gados marcados desde os tempos do Imperador? “Patriotizados”? Ora, isso serve a quem mesmo?

Não. “Eu não sou todo mundo”. Sou apenas um ser em meio a um pandemônio. Vivendo de desatinos em nome da Família e do mau uso do nome de Deus, que têm destruído as pessoas.

Se meu pai morre, mesmo aos 88 anos, por não ter um respirador ao alcance, a culpa não será de seus pulmões envelhecidos.A culpa será sempre de quem fez crescer as filas da morte a espera de leitos em UTIs.

Não adiantam medidas provisórias para jogar a culpa adiante, se é que tais pessoas sentem algum tipo de arrependimento. Se alguém muito próximo de você vier a morrer e a sua postura for condizente com a do atual governo, não haverá velório, despedida, nada. Essa pessoa sequer será estatística, pois os números oficiais são camuflados para esconder a verdade. Como se fez à época da Ditadura.

Então, antes de aceitar tudo ou qualquer coisa, faça uma submersão e busque os valores em você. Os meus estão aflorados. Sou da paz. Sou do amor. E creio, de coração, que a pessoa só se mostra de verdade quando se despe dos sermões. De direita, de esquerda, do centro, de qualquer ou de posição alguma, busque no âmago aquilo que nos distingue dos demais seres: o HUMANO, capaz de raciocinar e criar. Se isso é possível, criemos coisas belas. A barbárie, pelo que já vimos nas prateleiras da História, é feia demais. (18 de Maio de 2020).

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 06/06/2020
Código do texto: T6969847
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