Domingo remoto

Oi, eu estou aqui... Tem alguém aí?

Eu dormi e acordei dentro de um sonho.

Meus pés estão inchados, meus músculos estão doloridos. Todo momento essas vozes ecoam:

Vamos!

A corrida começou, já vai adiantada e ainda tem um longo percurso pela frente!

Como assim? Você vai correr sem sapatos? Você esqueceu os sapatos?!

É... Essa é uma mania feia de quando era criança, apanhei muito para aprender a andar calçada, mas não adiantou. Pelo menos em casa eu me dou esse prazer...

Mas eu estou na corrida, não estou?

Eu estou, mas não, meu prêmio não é chegar ao final.

É uma maratona muito louca!

Semelhante à corrida do cachorro atrás do pneu de um carro.

Alguém já viu? Já parou para saber o que acontece?

Eu já... Ele simplesmente disfarça que não sabe o que fazer e sai de mansinho.

Eu não consigo correr descalça! E a linha de chegada está embaçada em minha visão.

Eu não consigo enxergar muito bem. Na verdade, essa corrida parece em um labirinto.

Parece um game antigo que você muda de fase, mas nunca termina o jogo; às vezes você morre e começa tudo de novo.

Agora mesmo eu morri. E pensava que estava perdendo feio, que estava em último lugar, mas vi que tem mais gente ao meu lado. Tem gente na frente, tem gente atrás que eu pensava que estava na frente...

Lembrei-me de uma frase dita por nossa antiga presidenta, que virou febre na internet: “Nesse jogo ninguém vai ganhar ou perder, todo mundo vai ganhar e vai perder”.

No contexto em que ela foi dita parecia sem sentido para muita gente. Mas talvez ela fosse futurista e só agora dá para entender.

Eu acordei e estou do mesmo sonho... Ou melhor, num pesadelo. Tenho medo! Quero correr, mas, minhas pernas estão pesadas! Sem forças! Tenho vergonha porque estou sem roupa e tem gente me olhando.

Tem gente mudando de fases sem ganhar. Tem gente que não sai do lugar e ganha. Que injustiça!

Que jogo e esse?

Tem horas que não vejo ninguém neste labirinto; tem horas que só escuto as vozes e quero chorar!

Por favor! Eu quero acordar!