Diário de Bordo (Tudo no Kosmos é Energia)

Faz mais de dezoito meses que eu optei por me embarafustar aqui no interior do Sul da Bahia, nas matas da Cururupitanga, bem próximo a Vila de Olivença, a conviver com lavradores, caçadores e pescadores, todos eles envolvidos pela extração da piaçava e com a produção de farinha de mandioca.

A minha absorção pela comunidade se deu com relativa facilidade, pois aqui cheguei e logo de cara tive de tratar a coluna de um morador, o Noy, pois precisava de seus serviços para me mostrar uma das áreas que eu havia adquirido, juntamente com o Lucas.

Após esse primeiro tratamento do Boy, vieram muitos outros: foi uma sucessão infindável de pesquisar e indicar chás e poções para uma série de disfunções, aplicar terapias bioenergéticas, e compartilhar conhecimentos de plantas, ervas e comportamento visando uma vida com menos percalços.

Dentro desse universo que embola o sincretismo religioso e as crendices no Brasil, e não só aqui no Sul da Bahia, optei por ser ainda mais resiliente do que o habitual, buscando entender e assimilar a visão de mundo daqueles que vivem em meu derredor, opção mais do que necessária para uma boa convivência.

(...)

Pois bem.

O mais complicado para um terapeuta corporal, ainda por cima tarólogo, explicar para o povo daqui, é que não sou um rezador, e sim alguém que aprendeu a trabalhar com técnicas corporais e energéticas que ajudam a restabeler a cura em nosso organismo. O fato concreto é que já estou admitindo que esta é uma batalha fadada ao fracasso, pois que já passei a ser visto como o xamã da localidade, pibes y chicas.

Ontem, um sábado entremeado de Sol e nuvens navegando pelos céus de Pasárgada, acordei animado o suficiente para dar um trato no casulo aonde acomodei a minha tenda. E, logo após um banho no Cururupe, peguei a minha bike e subi a ladeira com o propósito de comprar alguns mantimentos em Olivença. No caminho, deixei o meu powerbank carregando na bodega do Curuja e me pus a cumprir o planejado.

Não havia pedalado mais do que duzentos metros, quando ouço uma voz me chamando pelo nome.

Parei a bike e fui atender o chamado...

(...)

"Seu João, preciso que o senhor reze a minha netinha, que está doente do estômago há mais de duas semanas."

Era uma mulher de uns oitenta e poucos anos, de cuja filha eu já havia cuidado anteriormente, e nem pensei em dizer que eu não era um rezador. Simplesmente pedi pra ver a garota, que tinha por volta de uns cinco anos de idade, e era bem franzina.

O pai dela me informou que havia levado a menina ao médico, o qual diagnosticou uma verminose e passou um medicamento, mas ressaltou que a mesma continuava a reclamar de dores. Disse-me mais ele que há dezesste dias nao conseguia dormir direito, em razão dos cuidados que vinha dispensando à filha...

Apliquei um pouco de cura pranica, (energização com as mãos) sobre o estômago da garotinha, após o que fiz limpeza de seu corpo, e indiquei para que fizessem um chá de folhas de araçá pera ela é preparei um soro caseiro para a garotinha.

Feito esses procedimentos, retomei a minha ida a Olivença, comprei os meus mantimentos e passei na volta na casa do pescador pra dar mais uma olhada na menininha.

(...)

Foi bom saber que ela já se encontrava bem mais calma, mas ainda um pouco assustadinha. Conversei com ela,e pedi ao pai pra me acompanhar, pois iria aplicar uma técnica de energização e limpeza com o Chakra das mãos na região abdominal.

A menininha colaborou bem, e pude realizar o processo com tranquilidade, conversando com ela.

Sai da casa dela, ganhei um sorriso de despedida, e hoje, após uma noite de sono picado, mas muito bem dormida, liguei para saber da minha pequena paciente, que segundo a mãe dela, está muito melhor.

Enfim, ladies and gentlemen, este é o cotidiano de um terapeuta corporal, (doravante aprendiz de rezador) aqui nas matas da Cururupitanga.

Terras de Olivença, manhã de um domingo tímido, segundo dia deLua Cheia de início de Junho de 2020

João Bosco