OLHO NO OLHO

Antes mesmo de iniciar o desenvolvimento dessa crônica, de antemão, já lhes aviso que não se trata de um acontecimento de superação, de coragem ou mesmo de encarar a vida com “olhos de tigre”. É que fuçando o vasto baú de memórias e, um outro adjacente já em construção, encontrei diversas passagens que se resumem em um só prazer, apesar de descrito abaixo com a emoção aflorada, devido a uma questão antológica, também é inenarrável. Um diálogo franco, aberto, descontraído, recíproco e repleto de sorrisos que fazem da presença, mesmo muitas vezes na distância, uma estrutura inabalável.

Quando o celular desesperado cantarola lá na pequena mesa da sala e verifico que se trata de uma chamada de vídeo da companheira, festivo meu coração fica ao escutar aquela voz fina, forte e carregada de sotaque mineiro. Satisfeita minha alma delira ao ver aquele rostinho moreno escuro – silhueta da perfeição – detalhado pelos olhos absolutamente pretos, profundos que produzem inusitados olhares diversos. Eu amo conversar com minha namorada, é um regozijo indubitavelmente extraordinário, pois as horas voam sem a gente perceber que matraqueamos por tanto tempo. É incrível como temos uma vasta lista de assuntos aleatórios, que surgem geralmente ao acaso, sendo desenvolvidos a cada diálogo. Ah, também temos momentos de diversão e muitos risos a exemplo das nossas cantorias nada afinadas no alto da noite, em um palco só nosso. Logicamente, estou falando das fofas camas já forradas para um sono iminente brotando pela madrugada. Às vezes, dependendo do direcionamento do papo, sou surpreendido por uma leitura focada, de bela entonação, a um ritmo na medida certa, de alguns de meus escritos. É, ela parece declamar bem umas crônicas.

Toda essa reciprocidade, olhando nos olhos, sem qualquer sentimento de intimidação, é algo maravilhoso e único que todo casal deveria experimentar. Além de namorados, somos também grandes amigos, companheiros. É isso que move uma relação salutar e estável. E a amizade é sim um dos grandes pilares de um relacionamento, não cabe a nós individualizá-la do processo do amar. Estamos nos provando isso no dia-a-dia.

É gostoso demais ter essa companhia flertando meus olhos e meus ouvidos durante alguns anos juntos.