Gaivota

O primeiro som do bando avisa uma nova manhã. O Sol radiante fazia meus olhos doerem ao olhar o mar. As vozes dos pescadores e barulhos vindos do porto indicavam um dia de intensa atividade. Hoje eu treinaria o vôo de lado. Mas nem todas as gaivotas procuravam se aperfeiçoar em outra área que não fosse a de brigar no porto por um pedaço podre de peixe. Se não fosse tão ridículo, seria ainda mais engraçado: um bando de gaivotas lutando por um único peixe, fazendo disso sua vida diária e acreditando que isso é o melhor que podem fazer.

Há algum tempo descobri o prazer de voar! Não simplesmente voar por comida, mas o prazer de voar por ser livre. Descobri o quanto é bom sentir no rosto o vento bater, o quanto é bom descobrir que posso voar mais alto do que imaginei! Descobri a sensação de um rasante, e o doce sabor do pôr-do-sol. Aprendi que não existe tempo nem espaço para a mente, e que não existe obstáculos quando se quer algo sinceramente.

Mas o bando não quis ouvir meu chamado à um novo objetivo de vida. Caçoaram, riram e me disseram estar louca, em pensar que existiria algo além do porto e dos peixes. E se não bastasse, na Assembléia Do Bando fui punida com a exclusão!

Agora estava fora do bando, e era uma gaivota que se alimentava somente do que lhe era necessário e merecido. Mas não estava mal. Aliás, estava bem melhor.

Na minha nova etapa, longe do bando, encontrei mais gaivotas que foram expulsas ou optaram por uma nova vida. Me surpreendi ao perceber que essas gaivotas pensavam como eu! E tinham um grupo em uma praia distante. Lá aprendi muito e ensinei algumas coisas também.

E por acreditar que todos possuem o poder de mudar e aprender voltei ao meu antigo bando, para quem sabe, ensinar novas gaivotas. De fato consegui disseminar a minha verdade a mais três jovens gaivotas.

E olhando do alto o bando do qual fui excluída, pensei que poderia ficar lá. Ser novamente parte do grupo, lutar mais uma vez por comida e ser fatalmente picada por um amigo esfomeado. Mas agora sei que o meu destino é voar cada dia mais além, em busca de um novo Sol.

Tainá Janaína da Rosa.

12/08/2003