pescarias no rio Piracicaba

As Pescarias do Piracicaba

Ainda vou continuar escrevendo da casa do vovô Teodoro e vovó Luiza, mas agora no tempo de Piracicaba.

A Tia Nega conseguiu uma transferência como professora da cidade de Araraquara ( na verdade era Matão), para Piracicaba.

Com isso, resolveram ela, vovô e vovó a mudaram-se para Piracicaba, com a vantagem de poderem ficar mais próximos do Tio Aristeu, já morador de Piracicaba há algum tempo.

Lembro-me que esta transferência foi motivo de preocupação para nós crianças. Ficava no ar a pergunta: será que lá iríamos viver tantas alegrias como as que vivíamos em Araraquara? Mas, em pouco tempo iríamos confirmar que a casa do Vovô continuaria a ser também um lugar especial, cheio de coisas boas e alegrias para curtir. Vou falar de algumas delas.

A casa, apesar de um pouco menor que a de Araraquara, principalmente na área externa, tinha suas particularidades e atrativos.

O primeiro deles acontecia na nossa chegada. Eu torcia para que fôssemos designados a ocupar o apartamento da parte superior, que era separado da casa. Isto porque era muito mais emocionante, a começar pelo o sobe e desce pelas escadas, como também uma visão privilegiada da rua, cujo movimento podia ser acompanhado lá de cima.

Muitos momentos agradáveis aconteceram nesta época. Talvez o mais marcante para mim eram as pescarias no Rio Piracicaba com o vovô.

O evento era marcado com alguma antecedência, pois exigia uma série de atividades de preparação. Uma delas que o vovô sempre me incumbia de realizar era a caça às minhocas.

Ele preparou ao longo dos anos um minhoqueiro debaixo de uma grande mangueira que havia no quintal. Era infalível. Em poucas cavoucadas e lá estavam, uns montes delas, prontas para alimentarem os anzóis das nossas varas de pescar.

Geralmente ocupávamos a mureta em frente a fabrica da Boys, que ficava no lado oposto do conhecido restaurante do salto, famoso pelo seu pintado na brasa. O lugar era disputado e tínhamos que chegar cedo para pegar um bom lugar. Geralmente éramos eu, papai e o vovô e mais um bando. Ao todo, eram geralmente umas dez pessoas. Era uma tarefa complicada cuidar de tanta gente num lugar tão perigoso, principalmente porque alguns integrantes do grupo eram do “Chico furado”, como este que vos escreve.

Nesta época, o salto ainda era exuberante e havia os que enfrentavam as águas descendo em uma bóia, aventura arriscada que poderia transformar-se numa tragédia. Ficávamos ansiosos aguardando por aqueles que se aventuravam em realizar tal proeza. Eu fui a Piracicaba muitas vezes depois desta época e a cada vez percebia o salto ir definhando com a redução do volume de água e dos graves problemas de poluição.

A pescaria durava toda a manhã e o resultado era de uma boa quantidade de peixes, a grande maioria mandis de cerca de um palmo. O mandi exigia muito cuidado para evitar uma ferroada.

Tinha uma técnica que o vovô explicava muito bem para os iniciantes não sofrerem as conseqüências de uma ferroada que doía demais e fazia inchar o local. Esta técnica consistia em imobilizar o peixe pressionando-o contra uma superfície plana, quebrando-lhe os ferrões das duas laterais e do dorso. O vovô tinha um alicate que era perfeito para esta operação.

Então, pegávamos um pedaço grande de capim ou barbante e colocávamos os peixes um a um presos pelas guelras, formando uma fieira que tinha em média de um metro a um metro e meio. Tinha muito peixe e ninguém voltava para casa sapateiro, como se diz na gíria de pescador.

Ao retornar para casa, a vovó preparava a fritada de imediato. Era muito gostoso comer o peixe que havíamos pescado. A sobra de iscas era cuidadosamente devolvida para o minhoqueiro, encerrando-se assim a operação.

Foi assim que a pescaria se tornou um dos eventos mais aguardados nas visitas a Piracicaba, momentos inesquecíveis que eu vivi na companhia do vovô e do papai, que guardo com muito carinho na minha memória e no meu coração.

Luiz A. G. Peixoto – Em: “Minhas Memórias”

luiz peixoto
Enviado por luiz peixoto em 10/11/2005
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