a Aventura de mochileiro

Nesta história vou contar uma das viagens mais deliciosas que fiz no ano de 1973.

O ponto alto foi o improviso. Eu e um grande amigo meu chamado Miguel e colega de turma na escola em São Carlos, enfiamos na cabeça de ir de carona para a Bahia.

Uma aventura completa, pois não tínhamos dinheiro e nem onde ficar em Salvador, onde pretendíamos ficar por lá por pelo menos uma semana.

Mochilas nas costas e pé na estrada.

Fizemos poucas paradas de São Carlos até o Rio de Janeiro.

Fomos até a casa da Sílvia, que na época morava no Leblon. Passamos lá uma noite e conhecemos dois rapazes Pernambucanos, um deles irmão da garota que dividia o apartamento com a Sílvia. Quando souberam do nosso programa, tomaram de imediato a decisão de nos acompanhar.

Agora em quatro, nos dividíamos em dois grupos separados eu e o Miguel em um, e os dois Pernambucanos em outro, pois se nós seguíssemos em quatro, seria muito difícil conseguir carona. Mochila nas costas e lá vamos nós. Fizemos mais um bom trecho indo parar em Linhares (meio do Espírito Santo), mas ainda muito longe do nosso objetivo.

Neste ponto, passamos uma tarde toda na estrada sem conseguir carona, debaixo de um sol de rachar coquinho e sentimos que iríamos ficar ali por muito tempo.

Nisso, inesperadamente chegou ao posto de gasolina onde estávamos uma viatura da Polícia Rodoviária.

Fomos conversar com o policial, explicando a situação quando ele, vendo que eu usava uma camisa do Projeto Rondon, que eu havia emprestado do papai, perguntou:

- Vocês são do Projeto? Ao que respondemos sem vacilar:

- Sim, e estamos indo a uma convenção do Projeto em Salvador.

Daí, ele nos levou até o posto rodoviário alguns quilômetros à frente na rodovia e lá, fez uma batida parando os veículos para nos arrumar carona. Foi a nossa sorte.

Dentre várias alternativas, escolhemos um caminhão cegonheiro carregado de automóveis de todos os tipos. Ele ia para Feira de Santana que fica a cerca de 50 km de Salvador.

Seguimos viagem neste caminhão por três dias.

A grande vantagem foi podermos dormir nos veículos. Eu dormi numa caminhonete S-10 super confortável e o Miguel em um Opala SS, também muito confortável.

Com isto, já estávamos praticamente em Salvador.

Ao chegar, para quem saiu de São Carlos sem dinheiro, não precisa dizer que não tínhamos o suficiente para subir pelo elevador Lacerda (na época 20 centavos por pessoa).

Pois à custa de muito acarajé e um pouco de fome, passamos os dez dias em Salvador, alojados em uma república de estudantes que conhecemos nas nossas andanças pela cidade.

Procurávamos dormir para esquecer a fome.

Eu tinha levado alguns pacotes de cigarro, na época eu ainda fumava. Vendi-os pelas ruas, o que nos rendeu o suficiente para comprar três pães tipo bengala e três litros de leite.

Fui correndo para a república encontrar com o Miguel que estava dormindo, talvez para esconder-se da fome, e assim dividirmos o resultado da operação. Comemos aquilo (pão com leite) como se fosse um banquete dos melhores. Uma refeição inesquecível.

Nestes dias foi possível conseguir algum dinheiro que o Miguel tinha em São Carlos e fomos salvos pelo gongo.

Visitamos todos os pontos turísticos da cidade, procurando gastar o mínimo do valor que havíamos conseguido, até encerrarmos a nossa viagem com chave de ouro quando encontramos por pura casualidade um rapaz de São Carlos, estudante da nossa escola, que estava em Salvador de carro e nos ofereceu carona. Partimos de volta a São Carlos no dia seguinte.

O único problema foi que o carro era um VW TC.

O Miguel, bem maior que eu, não cabia no banco detrás então eu é que tive que vir os vários dias de viagem empaçocado no banco de trás. Não dava nem para respirar.

Os Pernambucanos eu nunca mais vi nem sei como e se chegaram a Salvador e o Miguel após trinta anos continua sendo um grande amigo e será o primeiro a quem vou mostrar estas linhas.

Muitas viagens vieram depois desta, tanto para mim quanto para o Miguel, mas certamente nenhuma com o sabor de aventura como esta teve.

Hoje, lembrando as condições que fizemos esta viagem, acredito que não teríamos a coragem de repeti-la, mas foi uma forma econômica de realizar nosso sonho, de conhecer Salvador e realizada de uma forma tão especial que jamais esqueceremos.

Luiz Antônio – Em: “Minhas Memórias”

luiz peixoto
Enviado por luiz peixoto em 10/11/2005
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