FOLHAS DO MEU DIARIO

Já são 22 de Agosto! Mais duas semana e estamos na Nova Inglaterra para outro capítulo de vida. Este verão foi curto, mas não foi mau de todo. Conseguiu-se arranjar as paredes por fora e, com a última porta de rede que já está apalavrada, ficam as portadas todas protegidas contra as moscas e mosquitos (menos a porta redonda, claro)... O Luís Miguel veio cá ontem tirar as medidas à porta de trás.

Hoje, pela primeira vez, comecei a escrever às 8 da manhã. Ainda sem tema certo. Há vários temas que me tem vindo à mente ultimamente. Questões religiosas com muita frequência vem ao de cima a pedir atenção. A pessoa do Nazareno e a sua mensagem tem-me atraído bastante. É pena que se saiba tão pouco da vida dele e da sua obra. A Igreja, todas as igrejas, tem tido um papel decisivo em mantê-las na sombra. O esforço que ultimamente se tem feito para descobrir o Cristo Histórico tem-se confrontado sempre com a resistência eclesiástica. É como se a Igreja tivesse monopolizado Cristo e a sua mensagem e não quisesse abrir mão dela.

Isto, é claro, é apenas um dos lados da moeda. O outro, possivelmente é o mesmo Cristo e a sua obra que possivelmente já teriam desaparecido há muito do domínio público se não fosse a constante e aturada divulgação eclesiástica. Enfim, é uma situação complicada. Mas para além da complexidade existe em tudo isto um imenso valor, uma grande força espiritual que vem ao encontro dos nossos mais angustiantes anseios e questões que a vida nos põe. Não será a mais lógica resposta à angustia existencial, mas é, talvez, a mais consoladora.

Para mim, o mais convincente argumento a favor da possível existência de um transcendente reside nesta apetência que sentimos por ele. Poeticamente é assim como que uma saudade dum mundo melhor que ou esquecemos ou apenas vislumbramos de muito longe. Mas esta apetência existente no fundo de cada alma humana deve ter alguma razão de ser.

Outro tipo de temas que me tem aflorado à mente com frequência é a história da família. Mas dessa só farrapos restam, meia dúzia de documentos. O resto são coisas que ouvi contar.

A única solução seria adicionar à narrativa um grande componente de ficção: baseado no pouco que se sabe, imaginar o resto. O trabalho de recuperação da casa da Costa oferece um bom ponto de partida para a narrativa. Imaginando-a (a história da família a como um barco) a narrativa encontra-se primeiro ancorada na casa da Costa, vai aparecer depois na Casa do Campanário, na Casa do Lajedo, na Casa de Stoughton, e , finalmente de novo na casa da Costa.

É um percurso de muitas décadas, mais de um século. Engloba pelo menos cinco gerações que se projectam até ao século XVIII. Uma parte inicial pode aparecer com flashbacks. O encontro entre os Jorge e os Serpa já desempenha papel decisivo na narrativa. É desse encontro que nasce a Casa da Costa que foi feita por meu avô, António Joaquim Serpa, ao preparar os seu casamento com Maria de Jesus Jorge. António era bastante mais velho do que Maria de Jesus, uns bons quinze anos.

Já são 25 de Agosto. Estamos quase a regressar.

Hoje fomos à Fajãzinha a ver da queijaria regional. Não encontrámos queijaria nenhuma... é tudo fogo de vista.