DE REPENTE, QUARENTA!

Acordei e já era um homem de 40 anos. Com todas as virtudes e vícios de um cidadão desta idade. Na melhor das hipóteses, vivi metade da vida. Uma vida sem grandes desalinhos e sem epopeias. Uma vida feliz, distante das amarguras.

Escalei árvores atrás de mangas, fiz gols nos campos de rua, fui espadachim e escondi gibi debaixo do colchão. Uma infância com amigos, aventuras e descobertas.

Sou um homem que encontrou o amor e nele deposita seus melhores sorrisos. Sou um homem que nasceu numa família que me ensinou a cultivar a simplicidade e ser honesto em atitudes e pensamentos. Sou um homem com bons e fiéis amigos.

Ao longo desses 40 anos aprendi e desaprendi coisas. Estive em tantos lugares e não estive em tantos outros. Declarei guerra a algumas ideias e mantive a paz com os homens. Não fiz filho, mas plantei árvore e escrevi livros. Que a sorte a minha não ser um homem completo ainda!

Nunca perdi a fé. Talvez eu tenha aprendido a testá-la em verdades diferentes. Nunca perdi a esperança. Talvez eu tenha aprendido a não desgastá-la com banalidades. Nunca perdi os valores. Talvez eu tenha apenas aprendido a olhar com mais calma todos os detalhes.

Não fiz negócios da China. Não dei a volta ao mundo. Não ganhei o Nobel. Não sou medalha de ouro em nenhuma olimpíada. Não conheço ninguém que tenha feito tudo isso. Talvez eu queira apenas ser um homem que saiba ler o mundo e que não desiste de percorrer o infinito que há em cada nova possibilidade.

Sou um homem de 40 anos. Tenho certeza que escolheria tomar chá de ervas com os hippies a beber champanhe com os grandes industriais. Escolheria a paz de uma cabana à beira-mar ou beira-mato a um palácio com seus bailes de máscara. Sou um homem que sabe dizer não, mas principalmente, sabe dizer sim. Escolho o contato ao contrato. O som de um piano à cauda de um canhão. A pior poesia ao melhor dos gráficos. A companhia de um homem de rua a do dono de muitas casas.

Sou um homem que descobriu o valor da liberdade. Caminhar sem arrastar correntes se chega mais longe. Não sei aonde quero chegar. Caminhar talvez seja o destino. Muitos de nós ainda não perceberam isso.

Há medo, há aflição e dor nessa aventura. Mais medo, mais aflição e mais dor há em não tentar essa aventura. Assim é a vida, vou descobrindo. Mas há aquela beleza, aquela alegria, aquele deslumbramento que nos arrebata. A isso chamo felicidade.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 22/06/2020
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