O QUE LHE DER NA TELHA

Ela só quer falar sobre banalidades; coisas assim que ninguém está interessado, ainda mais nesses tempos de pandemia, de vida cara e de perdas imensuráveis. Mas ela quer falar do prosaico tão corriqueiro na sua escrita.

Desse momento de lavar as panelas ouvindo Marvin Gaye no Spotify e dançar até esquecer os problemas. Assim, problemas graves, de incertezas, de escuridão no final do túnel mesmo. E ela quer falar de margaridas na janela, de brisa no amanhecer e de sonhar de novo com os pés no mar.

Ela só quer dançar “Dancing Queen” do Abba, até porque ela é meio obsoleta e se permite ser brega ao cubo. E também assistir programas de humor singelo e dar gargalhadas com o Chaves.

Quer tomar café olhando para aquela rua para a qual não pode caminhar mais. Aguar os cactos da janela, até porque eles a ensinam todos os dias sobre a famosa resiliência ou resistência para ser mais exato.

Ela só quer comer aos domingos macarrão ao sugo com bastante queijo e beber o seu vinho barato, mas de gosto bom. Sorrir para a vida que se tornou bem madrasta para ser clichê.

E ela só quer escrever o que lhe der na telha, na veia, na raiva ou no amor. E só quer andar descalça dentro de casa porque isso remete às férias de verão. Ela só quer vagabundear para ser mais exata, porque de sério já basta esse momento." (crônica incompleta)

Angela Gasparetto
Enviado por Angela Gasparetto em 22/06/2020
Reeditado em 22/06/2020
Código do texto: T6984836
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