Os devastadores efeitos do confinamento social
  "Olhares assustadores
Todos em busca de paz
Nas "máscaras" de temores,
Sorrisos não vemos mais."  
(dilsonpoeta) Natal/RN
     Depois de  longos e enfadonhos dias em confinamento social, as coisas começam a adquirir contornos preocupantes.  A suspensão abrupta da rotina de vida,  traz para todos um desconforto, físico e emocional sem precedentes.  O simples ato de dar dois dedos de prosa com  um vizinho, ou de ir  à padaria do bairro, buscar os quitutes para o café das manhã, ou mesmo dar uma volta no quarteirão para desenferrujar o corpo, seja logo cedo ou à tardinha; todas essas práticas foram definitivamente alteradas.
     No início, tudo era novidade, um leque de opções em atividades e lazer, ver aqueles filmes que ainda não tinha sido possível ver, assistir de maneira mais célere às tantas séries começadas, algumas abandonadas no caminho, por falta de tempo; ler os livros, eternamente à espera na estante ou em algum canto da casa. E as tarefas: arrumar o guarda-roupa, esvaziar as gavetas entulhadas de tanta coisa em desuso; cuidar do quintal, plantar um canteiro de verduras, cuidar dos vasos, transplantar a samambaia.  Na cozinha, incrementar o cardápio com aquelas receitas trabalhosas que foram sempre adiadas por falta de tempo. Enfim, aquela sensação de se ter todo o tempo do mundo, para fazer o que quiser, desde que se mantivesse fiel ao lema “fique em casa”.
     Obviamente que, por mais que se buscassem formas criativas de conviver com essa inédita situação, de antemão, todos já previam que seria um momento de grandes renúncias, de alterações extremamente bruscas, que afetariam a vida  de todos. E ainda  deve-se considerar o contexto desse isolamento que é de generalizado pânico, ante o avanço devastador da pandemia de Covid-19 pelos quatro cantos do mundo.  O sentimento de impotência por  ter de se defender de um inimigo invisível e extremamente sorrateiro imprevisível, sempre surpreendendo da pior maneira a tantos que buscam enfrentá-lo, nas várias frentes de batalha, ou dos que se tornam vítimas dele.
     O teletrabalho passou a ser a tábua de salvação do emprego e da ociosidade. Mas, bastaram algumas semanas para que todos percebessem que, na verdade, levaram mais um problema para casa. Em praticamente todos os lares, a privacidade comprometida pelo intenso e interminável convívio,  tornou-se quase insuportável, quando a casa passou a ser uma extensão das empresas e instituições. Todos descobriram, em pouco tempo, que seria impossível desenvolver remotamente as rotinas de trabalho, sem interferir drasticamente na organização da vida em família.
 
     E, agora, após três meses, depois de ver todos os filmes, assistir a todas as séries, arrumar todas as gavetas e prateleiras, plantar os canteiros que não renderam muita coisa, enfim, cumprir rigorosamente todas as metas, vai-se chegando a um ponto em que não dá mais para prosseguir nessa agonia, de cabeça erguida, de corpo e mente minimamente saudáveis. O corpo começa a sentir os efeitos das receitas incrementadas e da prolongada falta de atividade física. As noites de sono não são mais as mesmas.
     Para piorar, não se veem perspectivas de alteração desse quadro a curto prazo. Alguns especialistas acreditam que serão necessários alguns anos para que a humanidade aprenda a conviver com essa nova e efetiva ameaça. Tudo isso, somado às consequências  econômicas, com sérias implicações sociais, aumento da violência doméstica, a falta de condições básicas de sobrevivência, além das intermináveis crises políticas,  tornam ainda mais catastrófica a situação que se vive.
     Não há nenhuma dúvida de que é preciso resistir bravamente e buscar de todos as formas minimizar os efeitos desses tempos caóticos em que se vive. Somente assim será possível, num futuro próximo ou um pouco mais distante, retomar a rotina de  vida, levando para o convívio social as preciosas lições aprendidas às custas do isolamento vivido. Há uma grande expectativa de que  tudo será melhor quando for estabelecido o novo normal.
     Quem viver verá.

 
Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 23/06/2020
Reeditado em 27/06/2020
Código do texto: T6985900
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.