Uma mãe de primeira viagem em: Puerpério

Admiro quem sai da maternidade só com uma criança recém nascida e ainda consegue tirar fotinho na frente do hospital para esse tão esperado momento. Eu saí com uma criança, 100 pensamentos de preocupação (ir pra casa, não vai ter mais enfermeira nem médico 24h, responsabilidade toda minha agora, tem que tomar vacina, ela está indefesa, arrumar a mala, está frio e chovendo lá fora, tem que fazer documento dela, marcar com a pediatra, amamentação, como será a rotina, medo do desconhecido...) e muitas preocupações na cabeça.

Acho ainda que carreguei comigo os efeitos da anestesia até dias depois e desenvolvi uma espécie de LPP (Lentidão Pós Parto). Se este sintoma não existe por comprovação científica, eu poderia ser uma das referências para o estudo para regulamentação do termo porque fiquei, literalmente, meio lerda até alguns dias depois do parto. Confesso que meu raciocínio caminhou devagar, porque da noite pro dia o volume de coisas pra processar aumentou em 300% e o meu HD ainda estava adaptando seu funcionamento para a função mãe, mas, pulando essa parte, responder que está tudo bem nesse período era, em outras palavras, sentir que apesar dos pesares (de todos eles), eu estava tentando manter um relativo equilíbrio...Equilíbrio para lidar com o incômodo, as limitações, os cuidados pós cirúrgicos, cinta, todos os absorventes possíveis (até de seio) e os desafios da nova condição...

De repente acordei e percebi que a sequência tomar banho, escovar o dente, me arrumar, tomar café não existia mais nessa ordem tão arrumadinha assim e que, inclusive, alguns destes itens, por vezes, se cumpririam somente no turno da tarde. Aliás, difícil foi dizer o que não mudou na rotina. Você dá de mamar, coloca pra arrotar, tira a roupa, dá banho, coloca pra mamar de novo, coloca pra arrotar, troca fralda de xixi, coloca pra dormir, arruma todas as coisas do neném, neném acorda, chora, você pega no colo, acalenta, neném chora de novo, você coloca pra mamar, coloca pra arrotar e troca fralda de cocô, neném chora, você pega no colo, acalenta...E tudo volta ao começo novamente.

Nesse período, percebi o quanto minhas emoções estavam à flor da pele, sensação de tensão/preocupação e alívio/satisfação andaram de mãos dadas. Apesar de me sentir insegura, ter dúvidas e não saber se estava agindo corretamente, não me faltavam forças para seguir o instinto e o coração. O que menos queria era ouvir pitacos e opiniões dos outros, a não ser que pedisse.

A minha programação fisiológica passava a obedecer ao funcionamento fisiológico da vidinha que vivia agora fora de mim. Comecei a perceber que já não conseguia me dar o luxo nem de sentir dor de barriga como antes e que a trilha sonora desafinadamente cantada por mim nos meus banhos, foi silenciada muitas vezes por choros e pedidos de aconchego. Perfume? Durante a gravidez era repelente e depois, por um período, passou a ser colônia da Johnson. Meus pratos do almoço tinham, ou melhor, TEM despertador ou sensores 'ativa choro'. Me deparar com um catatau de roupas dela pra lavar e passar com todos os cuidados que estas atividades requerem e fazê-las com todo o prazer e amor do mundo. (Sim, é possível...O amor move montanhas e lava roupas também). Acrescente-se a isso o equilíbrio com os afazeres domésticos, os papéis de mulher e esposa. Dizem que essa fase da maternidade é cansativa...Eu, definitivamente, não tive nem opção nem tempo pra pensar nisso!