Lições de vida podem surgir de um simples cocô!

Segunda consulta à pediatra. Lá vamos nós! Mamãe com uma listinha de itens para perguntar a médica.

E na lista do mês estavam:

- Nariz entupido

- Carocinhos no rosto

- Mamadas e soluço

- Força demais para fazer cocô

Quando procurava por referências de pediatra, não queria uma médica apenas para pesar e medir. Gostei dela desde a primeira vez, não tem papas na língua e fala tudo que precisa ser dito. Aconteceu transferência também porque ela falou sobre todos os ítens que estavam na minha listinha de dúvidas antes que eu perguntasse.

No check list, quesito cocô ela já tinha dito que era pra preocupar se ela passasse mais de um dia sem fazer, o que não era o caso, mas lá estava eu com a síndrome da mãe de primeira viagem que acha que tudo é de se preocupar "doutora estou achando que ela está fazendo muita força pra fazer cocô... A bichinha sofre como quê, chega fica vermelhinha, é normal?" e a médica com o ar mais tranquilo do mundo, me responde "o problema é dela, viu mãe?". Depois ela me deu uma explicação sobre a comunicação existente entre o cérebro, intestino e os esfíncteres e que o bebê às vezes faz muita força porque ainda está aprendendo a ativar este circuito e blá, blá, blá. Depois finalizou: "Deixe ela...que ela vai conseguir".

Escrevi tudo isso para dizer que nunca um "problema seu" (neste caso, dela, da minha filha) foi tão representativo para mim e me fez concluir que:

1. Descobri que 98% das coisas que acontecem com bebês são normais (até descobrir isso tive mil surtos);

2. Minha filha, com menos de 3 meses, já tem problemas a resolver e ela terá que solucioná-los sozinha, sem a minha ajuda;

3. Ela depende de mim para muitas coisas ainda, mas para outras e em tantas outras situações da vida, ela terá que caminhar sozinha, com as próprias pernas, ainda que eu esteja sempre ao seu lado torcendo para que tudo dê certo;

4. Nem sempre o sofrimento será ruim. Em alguns casos, inclusive, será necessário e representará um grande passo para o desenvolvimento e amadurecimento dela;

5. Ela lidará com situações difíceis, frustrações e, em algumas delas, sofrerá mais do que o ato de fazer força demais para fazer cocô;

6. A depender da situação eu não terei nada a fazer para evitar o sofrimento dela;

7. Pensar tudo isso dói nos nervos mas está sendo funcional;

8. O quesito cocô me trouxe significativas reflexões, o que me fez pensar que lições de vida podem surgir de um simples cocô.

Talvez a pediatra nem saiba o quanto o "problema dela" me fez pensar. Na verdade, no fundo a gente bem sabe de tudo isso, mas teima em querer acreditar que teremos filhos para sempre debaixo de nossas asas, livre de qualquer sofrimento...

O desejo de mãe por muitas vezes é: "vem filha, não vou deixar que nada faça você sofrer", mas, por quantas vezes será necessário dizer "vai filha...você precisa ir sozinha...vai ser doloroso, mas você vai conseguir...".