Lembranças de um cordão umbilical

Cordão umbilical é uma estrutura que une o bebê à mãe e é cortado na hora do parto...balela...essa é a história que contam pras famílias.

A verdade verdadeira é que todos os cordões tem defeito de fábrica, eles são resistentes ao corte e o que acontece é que nós, mães, andamos com ele pendurado por anos e temos que sair cortando por toda a vida e, o pior, com mais dor e sem anestesia.

O primeiro mês de vida é in(tenso), nasce o bebê, recém nascida também é a mãe, mas o cordão umbilical (até então, in memoriam) eis que ainda está lá todo lindo, mais vivinho do que nunca, pulsante, sobrevivendo do envolvimento profundo de pele, cheiro, de uma ligação visceral.

São meses de abdicação e doação. Doação de corpo, de colo, de alma, de horas de sono, de suas escolhas, de sua paciência. A comunicação que antes parecia uma incógnita, é estabelecida aos poucos e você entende até as manhas do bebê. Você vibra com o primeiro sorriso, quando consegue segurar o pescoço, segurar os objetos, quando começa a se rastejar.

O ano era 2016 e então, depois de 4 meses é chegada a hora de mais uma vez travar uma batalha para cortar o bendito cordão (e o coração também). O corte é um imperativo para o amadurecimento da mãe e para o desenvolvimento da criança. Viver a maternidade na vida como ela é, no mundo do trabalho, dos afazeres, dos estresses, dos compromissos é mais um desafio. Sim, é uma delícia ficar com a cria 24h. A maternidade tem uma capacidade incrível de transformar e eu tenho percebido emergir o melhor de mim. Me complementa como mulher, mas não me basta por si só.

É uma delícia também voltar ao mundo do trabalho. Eu desejei isso e isso também me completa. Nos bastidores da licença, durante 4 meses, aproveitei bastante...Desbravei milimetricamente cada metro quadrado do meu apartamento, percorrendo trilhas incansáveis da sala pro quarto, pra varanda e pra cozinha, pratiquei algumas modalidades de esportes radicais (levantamento de peso com bebê, salto à distância em qualquer sinal de gemido, luta livre com mosquitos, formigas e qualquer ser irracional da espécie animal). Sim, viajei também! As mais longas foram em dias de vacina e consultas com a pediatra. Sair era uma glória, eu estava agradecendo qualquer ida ao supermercado. Digamos que, literalmente, pedi licença à vida para a maternidade.

Saldo do retorno? Tudo tranquilo...Uma pessoa digievoluída. Nem chorei! Algumas lágrimas que tiveram a ousadia de sair do meu olho sem o meu consentimento, liguei 200 vezes para casa, voltei na hora do almoço pra amamentar, deixei 201 recomendações e no coração a sensação de que ninguém nunca no mundo vai fazer o denguinho que só você faz. Mas, eu sei o que foi isso...Encontrei a tesoura que usei pra cortar o cordão umbilical e percebi que ela estava com um pouco de super bonder. Assim fica difícil...