Será que um dia desejarei voltar ao 17 de outubro?!

O ano é 2007. O vento entra pela janela do quinto andar sobre minha cama, lutando contra o calor insuportável e levando pra longe meu sono. Pensamentos vagam pela minha mente em uma noite quente de outubro... quanto tempo ainda será necessário para que os planos e sonhos de 31 anos comecem a se tornar realidade. O vento parece querer empurrar pra frente a vida de quem parece estar estagnado no anonimato, nas frustrações e na vontade de dar uma vida melhor pra sua amada esposa. A angústia é presente.

Seu sono chegou... ela suspira suavemente como quem descansa de um exaustivo dia de trabalho na ansia de recuperar as energias necessárias para suportar o próximo. Mas sua serenidade me conforta, me faz repensar a vida e lembrar que as coisas boas nos rodeiam. Me faz pensar no futuro como um presente porvir cheio de alegrias, conquistas e alegrias, mas um tanto quanto lento de chegar.

O vento ainda sopra, agora mais frio...

Einstein afirmou que a viagem no tempo é impossível e a prova disso é o fato de nossa existência não ter sido invadida por turistas do futuro, mas na minha mente ela acontece diariamente rastreando passado e vasculhando o futuro, imaginando o que possa fazer com que os dias que virão passem a ser melhores dos que hoje, esse 17 de outubro morno, depressivo e cinza. Será que um dia desejarei voltar ao 17 de outubro? Será que lembrarei desse dia mais pelas coisas boas que existiam do que pelas ruins? Espero que eu não sinta falta de nada.

Os grandes pensadores sempre disseram que as nossas vidas são guiadas apenas por nós mesmos, pelos nossos pensamentos e pelas nossas virtudes. Não necessariamente nessa mesma ordem de prioridade. Acho que está faltando algum catalizador nessa reação que chamo de vida. E a desconfiança que só depende de mim está crescendo em mim como algo que insuportavelmente não cabe mais em seu invólucro. Até quando vou segurar isso e fingir pra mim mesmo que está tudo bem, e que no futuro as coisas vão melhorar?! Talvez por mais 31 anos de espera por favores, conversas, dicas, acordos, ajustes, compras, vendas, incorporações, definições e novos nãos. A vontade de mudar nunca esteve em tamanho conflito com meus medos. Acho que Deus está farto de tentar empurrar o filho pequeno que precisa urgentemente aprender a nadar sem suas bóias, mas olha para a imensidão da piscina com um pavor tamanho que não consegue pular, senta no chão e apenas chora por constatar que não consegue domar sua incapacidade de arriscar e mostrar pro mundo que é sim muito capaz de ser feliz.

Se os anjos que volitam sobre os ombros de personagens de desenhos animados existissem, cada qual com sua característica de ajudar e atrapalhar, fico imaginando meus dois a me espiar. O mau rolando no chão pelos sucessos de seus planos de atrapalhar o andamento e a evolução das coisas, o bom sentando com a mão no queixo e suas asas baixas a pensar o que mais poderia ser feito para que esse "ser" conseguisse acordar para a vida.

O sono chegou e me entrego a ele quase sem querer que o novo dia chegue tão rápido. Ela apenas suspira.

Mais um dia chegando e mais uma vez os pensamentos vão me rodear imersos em cobranças de mim mesmo. Preciso muito parar de esperar sentado que tudo aconteça. Ela é minha força motriz e tenta abrir meus olhos para o que eu mesmo posso fazer sozinho, e está certa, tão certa que isso me incomoda.

Dormi.