O Sagrado: memórias, ermitões e santas em Minas
 
 
PARTE 2
 
B. Ermitões
 
Estes personagens históricos foram tão importantes quanto os exploradores de ouro, conjurados políticos ou escravos para a formação do mineiro. Se estes – escravos, conjurados e exploradores – contribuíram para nossa base política-econômica-social os Ermitões não foram meros figurantes. Estes místicos foram responsáveis pela memória coletiva do sagrado.

 
Marc Bloch nos faz advertência de que conhecer a memória coletiva é entender como a mentalidade de uma época chega até o presente. Conhecer suas origens é saber os seus porquês e é resgatar a história deste coletivo. Ele nos escreve que “à sua maneira, as sociedades humanas são, como os indivíduos, dotados de memórias coletiva – para empregar uma palavra cômoda, sem dúvida, que é estritamente exata – é feita, na realidade, por uma multidão de contatos entre as memórias individuais, chamadas a comunicar entre elas, ao longo das gerações, tanto pela palavra, como pela escrita; resume-se, pois, antes do mais, a um fenômeno de passagens. A recordação assim compreendida constitui um elemento vital de toda a mentalidade do grupo.” (BLOCH, p. 203).
 

O Ermitão, figura que contribuiu para adubar o imaginário coletivo do mineiro, influenciando a cultura pode ser definido como um religioso, súdito da Coroa Portuguesa no Brasil colonial, civil e não eclesiástico que construía uma casa religiosa, asilo, santuário, que era sua ermida. Vestia tecido grosseiro de lã, chamado burel, trazia à mão um bordão ou cajado ou simples vara e relicário com alguma relíquia de um santo.
 

 Houve alguns que se destacaram como o Irmão Lourenço de Nossa Senhora, no Caraça, Feliciano Mendes, do Santuário de Congonhas, Irmão Bracarena, da Serra da Piedade, Félix da Costa, do Colégio Macaúbas e Pe. Manuel dos Santos, da casa de Orações do Vale de Lágrimas em Itacambira.
 

Segundo reza, o irmão Lourenço pertencia à família Távora que fora perseguida em Portugal pelo Marquês de Pombal. Sobrevivente viera para a colônia brasileira e em Minas Gerias esmolava e com o fruto de sua penitência construiu uma capela em 1774. Construiria ainda a casa para outros frades e morreu aos 94 anos. Ele dizia que era camponês natural de Nagoselo. Ele fora visitado por Saint-Hilaire, que diz em seus relatos que o religioso era submetido à regra dos irmãos terceiros de S. Francisco e tinha a companhia de outros dez irmãos desta ordem religiosa. Destas construções surgiu o Caraça, escola de formação para rapazes.
 
 
Se os rapazes tinham o Caraça, as moças tinham o Macaúbas. Tôrres faz a seguinte avaliação:
 
“o que... distingue a civilização das Minas Gerais de qualquer outra que o Brasil conheceu, até o século passado, é o seu caráter amplamente social e não apenas doméstico, isto é, considerando a sociedade em geral e não a unidade puramente de clã, do tipo Casa Grande e Senzala.”
 

Macaúbas foi o primeiro convento das Minas Gerais fruto da ação de Félix da Costa. Ele foi um ermitão que construiu uma capela a 12 de agosto de 1714. Daí foi construído  o covento que  recebeu as internas a partir de 1743.
 

Feliciano Mendes era português que veio para Minas. Aqui, estando muito mal fez promessas de devoção ao Senhor Bom Jesus. Recuperando-se dedicou sua vida à religiosidade tornando-se mais um Ermitão. No povoado do Redondo, no morro do Maranhão, levantou uma cruz, no início de 1757 com o intuito de que os passantes rezassem pelas almas do purgatório. Da cruz, logo construiu uma capelinha na freguesia de Congonhas. Para tanto teve autorização e a determinação régia dada por D. José de que ele, Feliciano Mendes, servisse de ermitão para tratar do asseio do lugar sagrado. Feliciano vestiu o clássico burel azul de peregrino, comprou um escravo e saiu com a caixa da imagem a pedir esmolas pelas terras de Minas.
 

Feliciano morreu em, 23/09/1765, esmolando em Mariana. Foi sucedido por Custódio Gonçalves de Vasconcelos, que construiu a capela-mor. Daí a 14 anos teria início uma festa anual com indulgências a quem visitasse a igreja. Já em 1799, Vicente Freyre contratou Francisco Antônio Lisboa, o Aleijadinho, para a feitura das imagens dos Passos da Paixão e os Profetas.
 
Para Saber Mais:
1. BLOCH, Marc. Introdução à História. Publicação Europa – América, LTDA, Portugal, 1997.
2. GINZBURG, Carlo. O Fio e os Rastros: verdadeiro, falso e fictício. S.P. Companhia das Letras, 2007
3.                                . O Queijo e os Vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. S.P. Companhia das Letras. 2006.
4.                                . Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história S.P. Companhia das Letras, 1998.
5. Saint-Hilaire, A. – Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas, S.P., 1938.
6. SOUZA, J. V. a. e HENRIQUES, M.S. (Org.). Vale do Jequitinhonha, Belo Horizonte. UFMG/PROEX. 2010.
7. TORRES, J. C. de Oliveira. História de Minas Gerais. 3º Vol. Difusão Pan-americana do Livro. B.H.
 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 27/03/2015.
 
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Lei do Direito Autoral nº 9.610,
de 19 de Fevereiro de 1998.
 
 
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 01/07/2020
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