O Sagrado: memórias, ermitões e santas em Minas

 
As Minas Gerais são marcadas pelo seu Barroco que reflete sua religiosidade. Esta religiosidade já foi bem mais acentuada e na contemporaneidade vem se diluindo devido a diversos fatores.  Porém a sua formação é marcada por seu Imaginário Sagrado recalcado nas memórias e nas figuras passadas de seus ermitões e santas.
 

PARTE 1
 

A. Memória
 

A memória traz os primeiros anos da década de 1960 quando em nosso lar não havia ainda televisão. E os únicos eletrodomésticos que tínhamos em casa era um rádio enorme na sala de jantar e uma radiola – isto mesmo ra.di.o.la – montada pelo meu pai como prova de proficiência do curso por correspondência de eletrônica que ele fizera quando jovem e ainda morava em Desterro do Melo.
 

Em casa com a caída da noite minha avó reunia filha, netas, netos para a reza do terço. Meu pai era caminhoneiro e sempre estava ausente. Meu avô morrera e por isto a família mudara para Barbacena, onde nasci.
 

Se houvesse alguma visita em casa o ritual se dava na sala de visita onde nas paredes haviam retratos pintados de avós, bisavós e toda parentela que eu não conhecera – era a genealogia em quadros. Ou se estava só a família a reunião acontecia na sala de jantar. Depois da interminável rezação meus irmãos, já caminhando da adolescência para a fase adulta, iam ouvir os programas radiofônicos ou os pesados discos de vinil. Se era estação da seca, como o inverno era chamado conservando o linguajar da fazenda, a reza era na cozinha com o fogão à lenha aceso.
 

Se na sala os quadros retratavam os parentes mortos, nos quartos ficavam imagens dos santos, crucifixos e aos seus pés velas acesas para a devoção.
 

Em minha memória de criança ficaram registradas estas cenas – cenário de teatro angustiante daquele sagrado que se fazia em casa – reporta-me à contrição e tristeza: Paixão de Cristo.

Depois veio a televisão como redentora daquele martírio que mais deprimia do que aproximava a gente da divindade. Pergunta-se:
 

Como esta tradição do sagrado católico se perpetuou invadindo os lares de muitos mineiros já na segunda metade do século 20?
 

As respostas são múltiplas. Suas origens portuguesas, com certeza. Entretanto vamos nos satisfazer com o período da exploração do ouro e diamantes, que se deu nas terras mineiras do Brasil colonial. Época em que muitos portugueses optaram em invadir terras que antes eram sertões fechados e foram trilhados primeiramente pelos paulistas.
 

Estes portugueses vinham atrás do sonho de se enriquecerem e outros fugindo de perseguições políticas promovidas pelo Marquês de Pombal. Muitos se sentiram frustrados jurando fidelidade de consagração religiosa se salvassem e se seus males fossem curados. Surgiram assim as figuras místicas conhecidas como Ermitões e as Santas.
 

Para Saber Mais:
1. BLOCH, Marc. Introdução à História. Publicação Europa – América, LTDA, Portugal, 1997.
2. GINZBURG, Carlo. O Fio e os Rastros: verdadeiro, falso e fictício. S.P. Companhia das Letras, 2007
3.                                . O Queijo e os Vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. S.P. Companhia das Letras. 2006.
4.                                . Mitos, Emblemas, Sinais: morfologia e história S.P. Companhia das Letras, 1998.
5. Saint-Hilaire, A. – Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas, S.P., 1938.
6. SOUZA, J. V. a. e HENRIQUES, M.S. (Org.). Vale do Jequitinhonha, Belo Horizonte. UFMG/PROEX. 2010.
7. TORRES, J. C. de Oliveira. História de Minas Gerais. 3º Vol. Difusão Pan-americana do Livro. B.H.
 
 
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 27/03/2015.
 
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de 19 de Fevereiro de 1998.
 
 
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 01/07/2020
Reeditado em 01/07/2020
Código do texto: T6993315
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