Limpando as gavetas em tempos de quarentena
Aproveitando o ensejo da quarentena, resolvi sair um pouco da rotina doméstica para fazer limpeza das gavetas do meu "criado-mudo", que já estavam superlotadas de papéis e de outros objetos.
Confesso que não é tarefa das mais fáceis. É preciso antes preparar o espírito para enfrentar a desorganização. Descartar tudo o que for desnecessário e organizar os essenciais.
Até aí, tudo bem. A tarefa ainda é fácil.
O grande problema é quando deparamos com o inesperado. É fundamental o controle emocional. Uma fotografia de um ente querido que há muito nos deixou; um bilhete amarelado pelo tempo que nos faz revirar a mente e voltar ao passado; um objeto que nos liga a alguém ou a algum lugar ou acontecimento; uma mensagem de outrora, sem importância, que agora nos impulsiona para cima.
Envolvido na referida limpeza, percebi que quanto mais descartamos o desnecessário mais aumenta o que descartar. É uma luta. Mas vale a pena. A gente até relembra velhas canções e acaba se encontrando em solfejos.
Encontrei algumas coisas que me fizeram sorrir e outras que me fizeram chorar. Deixei rolar as emoções. Revivi e me senti bem comigo mesmo.
Dentre os objetos encontrados, o que mais me chamou a atenção foi um "monóculo", contendo o meu retrato de quando criança, com mais ou menos cinco anos de idade.
Olhando para aquele retrato e para o espelho, comparei o antes e o depois. Lágrimas e risos rolaram. Passei a dançar e a cantar.
E as gavetas abertas ficaram esperando pelo meu retorno.